quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A Essência e a Existência.




Entende-se por essência o conjunto das propriedades pelas quais um ser se define, ou seja, aquilo que faz com que uma coisa seja o que é. Exemplo: o Homem define-se como um ser racional. Esta qualidade é essencial e constitui a essência do homem. Entende-se por existência a realidade e a actualidade da essência.
Foi Platão quem realizou a distinção entre essência e existência ao criar a “Mundo das Ideias”. Existem dois mundos distintos: o mundo sensível (terreno), imperfeito e aparente, cujo aprende-se através dos sentidos e o mundo inteligível  (das Ideias), perfeito e verdadeiro, ao qual aprende-se através da razão. A distinção feita entre o mundo sensível e o mundo das ideias corresponde a distinção radical entre o mundo terreno (das existências) e o mundo das ideias (mundo das essências). Assim, podemos considerar dois aspectos na doutrina platónica: a distinção entre essência e existência. Primado da essência sobre a existência.
Desta forma, os objectos do mundo sensível são cópias ou imitações das ideias (do mundo inteligível) que constituem modelos, arquétipos ou essências anteriores às suas imitações terrenas. Daí que o mundo sensível pode ser considerado o mundo das existências, enquanto o mundo inteligível é o mundo das essências.
Aristóteles modifica a teoria do seu mestre (Platão) da essência e da existência através da doutrina da matéria e forma, cuja dominou toda História do pensamento filosófico até nossos dias. De acordo com Aristóteles aquilo que é universal e essencial já não se situa num mundo superior, afastado do mundo sensível. Contudo, só existem coisas individuais e concretas, que são as substâncias, as quais realizam cada uma sua maneira, um universal ou modo geral de ser. Este universal corresponde a essência.
Em “A Metafísica VII”, Aristóteles escreve: “a essência é aquilo que uma coisa é e que ela partilha com os restantes indivíduos da sua espécie”. Exemplo: Júlio, Ana são indivíduos concretos que têm em comum o facto de serem seres humanos. Possuem em comum a essência humana que é universal. A essência é característica fundamental da existência.
S. Tomás de Aquino mantém com Platão, a distinção entre essência e existência, negando que a essência possa ser vista como algo do real, mas sim, a essência é pura possibilidade que, na existência torna-se actualidade, isto é, a essência é apenas um meio de tornar a existência inteligível. De acordo com S. Tomás de Aquino a existência não é senão a actualidade da essência, não poderia supor uma essência anterior à existência.
As doutrinas existencialistas ou filosofias da existência, cujo representante foi Soren Kierkegaard defendeu a primazia da existência sobre a essência. No entender de Kierkegaard, a “essência é o reino do necessário, mas o modo de ser do indivíduo é a existência” (REALE & ANTISERI, 2005: 224). A existência diz Kierkegaard corresponde à realidade singular, ao individuo: “um homem singular não tem certamente uma existência conceitual”. De um modo geral, os filósofos existencialistas pensam o indivíduo como uma realidade irredutível, original e única. Valorizam a individualidade em detrimento da essência abstracta.
Igualmente, Jean Paul Sartre no seu livro O Existencialismo é um Humanismo (1962) defende que, nos ser humano, a existência precede a essência. O Homem começa por existir, é um projecto de si próprio, faz-se a si mesmo e aquilo que ele chega a ser é resultado da sua liberdade. Outrossim, Heidegger, por sua vez, negando as ideias de Sartre, defende que a essência do homem reside na sua existência (entendida como abertura do homem ao mundo e ao ser, como criação e superação de si próprio).   
A Cadeia Aristotélica das Causas
De acordo com os escritos gregos (bibliografia) “Causa” consiste conhecer ou saber a origem e o motivo da existência de alguma coisa. Ou seja, as causas primeiras consistem em saber o que é, como é, por que é e para é uma coisa (essência). Desta forma, são quatro (4) as causas primeiras: causa material, causa formal, causa eficiente e causa final.
As duas primeiras causas (formal e material) constituem a “essência” de todas as coisas. As causas e princípios são para Aristóteles o que funda, o que condiciona, o que estrutura.
*   A Causa Material é aquilo do qual é feita alguma coisa; ou seja, é aquilo de que algo surge; é o substrato das mudanças e das diferentes qualidades das coisas. Exemplo: o livro, a causa material são os papéis.
*   A Causa Formal é a ideia ou o modelo de algo, isto é, explica a forma que uma essência possui, aquilo que a define. Exemplo: carteira a forma assumida pela matéria. O livro a forma assumida pelo livro.
*   A Causa Eficiente ou Motriz é aquilo que explica como a matéria recebeu uma forma para constituir uma essência, isto é, é aquilo que produz alguma coisa. Exemplo: o carpinteiro que faz a carteira é a causa eficiente.
*   A Causa Final é a causa que dá o motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal como ela é, ou seja, o fim ou o objectivo para o qual foi feita alguma coisa. Exemplo: o motivo pelo qual foi feito o celular é a causa final.

Aristóteles destaca a importância da causa final, pois a causa final de alguma coisa deve ser o bem para essa coisa. Assim, Aristóteles apresenta a explicação teleológica dos fenómenos, considerando que estes são meios para alcançar-se um determinado fim.

S. Tomás de Aquino e as Cinco Vias
A Escolástica que dominou toda a Idade Média, cuja ensinada nas escolas da Igreja, combinando doutrinas religiosas e assuntos teológicos com Filosofia e na tentativa de conciliar a “Filosofia de Aristóteles com a Teologia Crista” (razão e fé), S. Tomás de Aquino procurou integrar a obra de Aristóteles e a verdade da revelação divina. S. Tomás de Aquino demonstrou a existência de Deus através das chamadas cinco vias ou provas da existência de Deus.
Primeira Via:
*      Motor Imóvel ou prova pelo movimento: parte-se do princípio de que tudo o que se move é movido por outro motor. Se este move-se, é necessário que seja movido por outro e, esse por outro e, assim, sucessivamente. Ora, é impossível prosseguir até ao infinito deste movimento, logo deve existir um primeiro motor que deu início ao movimento existente e que por ninguém foi movido. Esse primeiro motor imóvel é Deus.
Segunda Via:
*      Causa Primeira ou prova pela causa eficiente: é preciso considerar que há uma causa primeira que por ninguém tenha sido “causada”, pois a todo o efeito (causa-efeito) é atribuída uma causa, visto que, nenhuma causa no mundo é a sua própria causa e, não é possível recuar até ao infinito, na série de causas eficientes, porque em qualquer série de causas ordenadas, a primeira causa é intermediária e esta é a causa da última. Por isso, para haver efeitos, deve existir uma causa eficiente primeira, uma causa não causada, ou sem causa e, essa causa eficiente é Deus.
Terceira Via:
*      Prova pelo Necessário ou Ser necessário: existem seres que podem ser ou não ser contingentes (dependentes), mas nem todos os seres podem ser desnecessários. Contudo, é preciso que haja um ser que fundamente a existência dos seres contingentes e que não tenha a sua existência fundada em nenhum outro ser. Assim, S. Tomás de Aquino afirmara que “nem todos os seres são possíveis ou contingentes”, mas entre eles deve existir um ser necessário, porque as coisas possíveis só existem em função das necessárias. Como não é possível admitir uma série infinita de coisas necessárias, conclui-se que tem de existir algo necessário por si e que seja causa da necessidade daquilo que é necessário por outro. Esse ser necessário é Deus.
Quarta Via
*      Prova pelos graus de perfeição ou ser perfeito: verifica-se que há graus de perfeição nos seres, uns são mais perfeitos que outros e qualquer graduação pressupõe um parâmetro máximo, logo deve existir um ser que tenha este padrão máximo de perfeição e que é a causa da perfeição dos demais seres. Alguns seres são mais ou menos verdadeiros, mais ou menos bons, etc. Existe alguma coisa que é o mais verdadeiro, o melhor, por conseguinte, o mais ser. O que é o máximo num género é a causa de tudoo que pertence a este género. Existe, portanto, um ser que é para todos os outros causa de ser, de bondade, de perfeição total e, esse ser é Deus. Pois Deus possui o ser de modo absoluto, ao passo que as criaturas têm um grau diverso de ser. Assim, existe um ser supremo e perfeito, que é a causa do ser, da bondade e das restantes perfeições das coisas.
Quinta Via
*      Prova pela inteligência ordenadora: existe uma ordem no universo que é facilmente verificada. Toda a ordem é fruto de uma inteligência, não se chega à ordem pelo acaso e nem pelo caos. Portanto, há um ser inteligente que ordena e dirige as coisas naturais. Jolivet acrescenta nesta quinta via alguma opinião, nestes termos: “no conjunto das coisas naturais verificamos uma ordem regular e estável”. Toda a ordem exige uma causa inteligente, que adapta os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo é obra de uma inteligência ordenadora, transcendente a todo o universo (Jolivet, 1972: 387).  
Bibliografia
BORGES, José Ferreira; PAIVA, Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução à Filosofia 12ª Classe. Moçambique: Plural Editores, 2015.
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; & NHUMAIO, Alcido Moniz Godi.  Filosofia 12ª classe. 2ª Edição. Maputo: Texto Editores, 2013.
REALE, Giovanni; & ANTISERI, Dario. História da Filosofia 5: do romantismo ao Empiriocriticismo. S. Paulo: Paulus, 2005.    

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