Tema:
A Emergência do Filosofar
A
Filosofia sofre preconceitos de ser incompreensível ou inútil e só penso em
bater porta-a-porta numa segunda-feira e dizer: “podemos conversar um pouco
sobre Nietzsche?”. Somente para tentar demonstrar o quanto a filosofia é
acessível, saborosa, aplicável e muito menos complicada do que parece. E a escolha
de Nietzsche dá-se apenas pela ironia do Deus morto por ele, ainda que não seja
verdade como alguns entendem o sentido da frase nietzschiana, mas enfim, essa é
outra historia.
O
nascimento da filosofia pode ser entendido como o surgimento de uma nova ordem
de pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. O
mito enquanto explicação possível sobre os acontecimentos da natureza e da
existência humana, isto é, para a chuva, o vento, guerra, trovoada, tempestade,
para a saúde e a doença, para o nascimento e a morte foi uma “representação
fantasiosa”da realidade (Mondin, 2008: 10). Uma visão do mundo que se formou de
um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos.
Igualmente, como narrativas, os mitos falavam de deuses e heróis de outros
tempos e, dessa forma, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do
trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas.
Os
gregos era um povo comerciante, propenso a navegação e ao contacto com outras
civilizações. A filosofia nascera das adaptações que os pensadores gregos
acrescentaram aos conhecimentos adquiridos por meio dessa influencia e da
superação do pensamento mitológico, buscando racionalmente aliar essa nova
ordem de pensamento grego (Mendes, etall, 2007: p. 19).
As
narrativas míticas tentavam responder as questões fundamentais, tais como: a
origem de todas as coisas, a condição do homem e suas relações com a natureza,
com o outro e com o mundo, enfim, com a vida e a morte, questões que a
filosofia desenvolveu no decorrer de sua historia (idem: p. 20).
Entretanto,
a filosofia trata de problematizar o “por quê” das coisas de maneira universal,
isto é, na sua totalidade, buscando estruturar explicações para a origem de
tudo. Enquanto o mito está no campo do fantástico, a filosofia não admite
contradição, exige logica e coerência racional e a autoridade destes conceitos
não advém do narrador como no mito, mas da razão humana, natural em todos os
homens (ibidem: pág. 20).
Existem
duas versões principais sobre a origem da filosofia: a versão mais conhecida é
aquela que acentua o surgimento de uma metodologia nova de abordagem dos
problemas no esforço de certos pensadores em explicar os fenómenos naturais com
métodos que possibilitem mediar, verificar e prever os fenómenos. Nessa versão
a filosofia ao nascer, opõe-se ao mito e o substitui, a partir de uma nova
racionalidade.
A
segunda versão, diz que não houve um rompimento entre o mito e a filosofia,
sendo uma continuidade do mito na filosofia.Dentre as varias fontes que teria
dado origem da filosofia são apontadas três razoes: a arte, a religião e o
conjunto das condições sociopolíticas e económicas dos gregos.
Tentativas de
definição da Filosofia
Quando
começamos a estudar Filosofia, somos logo levados a buscar o que ela é. Nossa
primeira surpresa surge ao descobrirmos que não há apenas uma definição da
Filosofia, mas várias. A segunda surpresa vem ao percebermos que, além de
várias, as definições parecem contradizer-se. Eis porque muitos, cheios de
perplexidade, indagam: afinal, o que é a Filosofia que sequer consegue dizer o
que ela é?
Etimologicamente
a palavra filosofia é de origem
grega: philo (amizade, amor) e sophia (sabedoria)
que significa “amigo da sabedoria”. Portanto, Filosofia significa também, amizade pela sabedoria, amor pelo saber;
e Filósofo: o que ama a sabedoria,
tem amizade pelo saber, deseja saber.Narra-se que o termo foi inventado por
Pitágoras de Samos, filósofo e matemático grego do século VI a.C. que certa
vez, ouvindo alguém chamá-lo de “sábio” e considerando este nome muito elevado
para si mesmo, pediu que o chamassem simplesmente de filósofo, isto é, amigo da
sabedoria, visto que, a sabedoria plena pertence a Deus (Mondin, 2008: p.7).
Dizia
Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (afesta
mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos,
aliestando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação
com asdisputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e
artistas (pois,durante os jogos também havia competições artísticas: dança,
poesia, música,teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para
avaliar odesempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro
tipo depessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo (Chaui, 2002: 19).
Com
isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses
comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser
comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir -
não faz das ideias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores
ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar,
julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que
buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos
olhos (do espírito) para vê-la (idem: 20).
A filosofia é conhecimento, forma de saber que, tem esfera própria
de competência. No entanto, enquanto é fácil dizer qual é a esfera de
competência das várias ciências experimentais, o mesmo não se dá com a
filosofia. Sabemos, por exemplo, que a botânica estuda as plantas, a geografia
a terra, a história os factos, a medicina, as doenças, etc. quanto à filosofia,
que coisa ela estuda? No entender dos filósofos, “estuda todas as coisas”. Aristóteles,
que foi o primeiro a fazer uma pesquisa rigorosa e sistemática em torno desta
disciplina, diz que a filosofia estuda “as
causas ultimas de todas as coisas”; Cícero define a filosofia como “o
estudo das causas humanas e divinas das coisas”; Descartes afirma que a
filosofia “ensina a raciocinar bem”; Hegel entende a como “o saber absoluto”; Whitehead,
o papel da filosofia “é o de fornecer uma explicação orgânica do universo”. Para
Karl Jasper filosofar significa
“estar a caminho”. No entender do filosofo alemão “as interrogações são mais importantes que as respostas e, cada uma das
destas respostas, transforma-se em nova interrogação”.
Platão definia a Filosofia como “um saber verdadeiro que deve ser
usado embenefício dos seres humanos”.Descartes dizia que a Filosofia é “o
estudo da sabedoria, conhecimento perfeito detodas as coisas que os humanos
podem alcançar para o uso da vida, aconservação da saúde e a invenção das
técnicas e das artes”.Kant afirmou que a Filosofia é “o conhecimento que a
razão adquire de si mesmapara saber o que pode conhecer e o que pode fazer,
tendo como finalidade afelicidade humana”. Espinosa afirmou que a Filosofia é “um caminho árduo e difícil,
mas que pode ser
percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”. (Chaui, 2002: p.17).
percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”. (Chaui, 2002: p.17).
Entretanto, há dificuldade em definir a Filosofia e essa
dificuldade existe no facto de não haver Filosofia, mas sim, filosofias.De acordo com Sartre essa
dificuldade está no facto de “cada filósofo tem a sua concepção filosófica e a
sua própria concepção sobre o que é a Filosofia” (Chambisse&Cossa, 2013:18),
porque nem todos os filósofos vivem na mesma época, razão pela qual têm
motivações particulares diferentes e têm problemas diferentes por resolver, ou
seja, cada época tem os seus problemas e a Filosofia procura responder as
perguntas do seu tempo. Portanto, “não
existe uma definição universal, aceite por todos os filósofos”.
AFilosofia interessa-se por aquele instante em que arealidade
natural (o mundo das coisas) e a história (o mundo dos homens)tornam-se
estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o sensocomum já
não sabe o que pensar e dizer, pois as ciências e as artes ainda não sabemo que
pensar e dizer.
No entender de Platão e Aristóteles, filósofos gregos, consideraram
que o espanto e admiraçãosão os dois
elementos, cujos nasce a filosofia” (Borges, etall, 2008: 10).É importante
frisar que existe uma filosofia
espontânea, cuja “é aquela que toda a gente, do impulso que todo e qualquer
indivíduo tem para questionar e tentar obter respostas, presentes na sabedoria
comum”; também existe uma filosofia
sistemática “própria dos especialistas desta área do saber, mais rigorosa, porque
está sujeita a depuração conceitual e logico-racional”.Portanto, aqui
debruçar-se-á sobre a filosofia sistemática (idem: 10).Significa que a
Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, buscaencadeamentos
lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidas por
procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentaçãoracional do que é
enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica podefazer com que
nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancemuma visão
crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas depoder afirmar
“eu penso que” (Chaui, 2008: 13).
Para que
Filosofia?
Muitos fazem uma pergunta: afinal, para que Filosofia?É uma
pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, porexemplo,
para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Paraque história
ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomiaou química?
Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo achamuito natural
perguntar: Para que Filosofia?
No entender de Marilena Chaui (2002: p.10) “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual omundo permanece tal
e qual”. Ou seja, a Filosofia não
serve para nada. Por isso,se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre
distraído, com a cabeça nomundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém
entende e que sãoperfeitamente inúteis.
AFilosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os
vícios humanos, aliberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão
para impor limitesaos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo
honesto e justo nacompanhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como
finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver (idem: p.11).
Abordagem do
conceito “Filosofia” pelo seu objecto de estudo
O filósofo situa-se perante o seu objectonuma atitude diferente de
qualquer outro conhecedor; de acordo com José Ortega Y Gasset (filósofo
espanhol do século XX), admite que a Filosofia tem um objecto próprio “que não é nenhum dos restantes objectos”,
pois ele “é o objecto integral, o
autentico todo, o que não deixa nada de fora”.
A primeira característica que distingue a filosofia de outras
ciências ou formas de saber é porque ela “estuda toda a realidade ou pelos
menos, procura oferecer explicação completa e exaustiva de esfera particular da
realidade”, isto é, “a filosofia estuda a todo, a totalidade do real” (Mondin,
2008: 8).
Enquanto as ciências têm como objecto de estudo uma parte, uma
determinada área da realidade material ou imaterial, a Filosofia procura
compreender “a totalidade do real”
material e imaterial; ela procura compreender “o universo no seu todo, ou seja, a totalidade do universo”. Esse todo, que é o objecto da Filosofia,
não é uma mera soma das partes, mas antes algo integralmente organizado,
estruturado. Por isso é que se pode filosofar a partir de qualquer objecto,
fenómeno ou facto, uma vez que, qualquer nque seja, é no todo que se encontra o
seu lugar e o seu fundamento último, que no final das contas é o fundamento
primeiro (Chambisse& Cossa, 2013:p.18).
Abordagem
do conceito “Filosofia” pelo seu método (a reflexão crítica)
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de
retornoa si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se
para simesmo, interrogando a si mesmo.A reflexão filosófica é radical porque é
um movimento de volta do pensamentosobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo,
para indagar como é possível opróprio pensamento (Chaui, 2002: p. 12).
Igualmente, o método da filosofia consiste em enunciar os
problemas com clarezae examinar com espirito crítico as diversas soluções. É
importante frisar que o metido envolve a “discussão
racional” e “com espirito crítico”,
cujos são acompanhados com a “atitude
racional e atitude crítica”. O método da filosofia, diz Battista Mondin
(2008: p.8) é o da justificação lógico-racional, pois a filosofia deseja
oferecer explicação conclusiva e, para conseguir, serve-se da razão.
Bibliografia
BORGES, José F; PAIVA,
Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução
à Filosofia 11ª classe. Maputo: Plural Editores, 2011.
CHAMBISSE, Ernesto D;
& COSSA, José Francisco. Filosofia
11ª classe. Maputo: Texto Editores, 2013.
CHAUI, Marilena. Convite á Filosofia. S. Paulo: Edições
Ática, 2002.
MENDES, Ademir A. P;
BORGES, Anderson de Paula; KESTRING, Bernardo; etall. Filosofia: ensino Médio. 2ª edição. Brasil, 2007.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os filósofos do
Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo: Paulus, 2008.
Esta informação é bastante interessante e ajudou-me bastante, não só a dar um passo para a compreensão da filosofia, mas também para descobrir que cada dia é uma lição de filosofia!
ResponderEliminarEsta informação é bastante interessante e ajudou-me bastante, não só a dar um passo para a compreensão da filosofia, mas também para descobrir que cada dia é uma lição de filosofia!
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