domingo, 25 de fevereiro de 2018

UNIDADE TEMÁTICA I: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA. 11a Classe


Tema: A Emergência do Filosofar
A Filosofia sofre preconceitos de ser incompreensível ou inútil e só penso em bater porta-a-porta numa segunda-feira e dizer: “podemos conversar um pouco sobre Nietzsche?”. Somente para tentar demonstrar o quanto a filosofia é acessível, saborosa, aplicável e muito menos complicada do que parece. E a escolha de Nietzsche dá-se apenas pela ironia do Deus morto por ele, ainda que não seja verdade como alguns entendem o sentido da frase nietzschiana, mas enfim, essa é outra historia.
O nascimento da filosofia pode ser entendido como o surgimento de uma nova ordem de pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. O mito enquanto explicação possível sobre os acontecimentos da natureza e da existência humana, isto é, para a chuva, o vento, guerra, trovoada, tempestade, para a saúde e a doença, para o nascimento e a morte foi uma “representação fantasiosa”da realidade (Mondin, 2008: 10). Uma visão do mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos. Igualmente, como narrativas, os mitos falavam de deuses e heróis de outros tempos e, dessa forma, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas.
Os gregos era um povo comerciante, propenso a navegação e ao contacto com outras civilizações. A filosofia nascera das adaptações que os pensadores gregos acrescentaram aos conhecimentos adquiridos por meio dessa influencia e da superação do pensamento mitológico, buscando racionalmente aliar essa nova ordem de pensamento grego (Mendes, etall, 2007: p. 19).
As narrativas míticas tentavam responder as questões fundamentais, tais como: a origem de todas as coisas, a condição do homem e suas relações com a natureza, com o outro e com o mundo, enfim, com a vida e a morte, questões que a filosofia desenvolveu no decorrer de sua historia (idem: p. 20).
Entretanto, a filosofia trata de problematizar o “por quê” das coisas de maneira universal, isto é, na sua totalidade, buscando estruturar explicações para a origem de tudo. Enquanto o mito está no campo do fantástico, a filosofia não admite contradição, exige logica e coerência racional e a autoridade destes conceitos não advém do narrador como no mito, mas da razão humana, natural em todos os homens (ibidem: pág. 20).
Existem duas versões principais sobre a origem da filosofia: a versão mais conhecida é aquela que acentua o surgimento de uma metodologia nova de abordagem dos problemas no esforço de certos pensadores em explicar os fenómenos naturais com métodos que possibilitem mediar, verificar e prever os fenómenos. Nessa versão a filosofia ao nascer, opõe-se ao mito e o substitui, a partir de uma nova racionalidade.
A segunda versão, diz que não houve um rompimento entre o mito e a filosofia, sendo uma continuidade do mito na filosofia.Dentre as varias fontes que teria dado origem da filosofia são apontadas três razoes: a arte, a religião e o conjunto das condições sociopolíticas e económicas dos gregos. 
Tentativas de definição da Filosofia
Quando começamos a estudar Filosofia, somos logo levados a buscar o que ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrirmos que não há apenas uma definição da Filosofia, mas várias. A segunda surpresa vem ao percebermos que, além de várias, as definições parecem contradizer-se. Eis porque muitos, cheios de perplexidade, indagam: afinal, o que é a Filosofia que sequer consegue dizer o que ela é?
Etimologicamente a palavra filosofia é de origem grega: philo (amizade, amor) e sophia (sabedoria) que significa “amigo da sabedoria”. Portanto, Filosofia significa também, amizade pela sabedoria, amor pelo saber; e Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.Narra-se que o termo foi inventado por Pitágoras de Samos, filósofo e matemático grego do século VI a.C. que certa vez, ouvindo alguém chamá-lo de “sábio” e considerando este nome muito elevado para si mesmo, pediu que o chamassem simplesmente de filósofo, isto é, amigo da sabedoria, visto que, a sabedoria plena pertence a Deus (Mondin, 2008: p.7).
Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (afesta mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, aliestando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com asdisputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois,durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar odesempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo depessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo (Chaui, 2002: 19).
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir - não faz das ideias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la (idem: 20).
A filosofia é conhecimento, forma de saber que, tem esfera própria de competência. No entanto, enquanto é fácil dizer qual é a esfera de competência das várias ciências experimentais, o mesmo não se dá com a filosofia. Sabemos, por exemplo, que a botânica estuda as plantas, a geografia a terra, a história os factos, a medicina, as doenças, etc. quanto à filosofia, que coisa ela estuda? No entender dos filósofos, “estuda todas as coisas”. Aristóteles, que foi o primeiro a fazer uma pesquisa rigorosa e sistemática em torno desta disciplina, diz que a filosofia estuda “as causas ultimas de todas as coisas”; Cícero define a filosofia como “o estudo das causas humanas e divinas das coisas”; Descartes afirma que a filosofia “ensina a raciocinar bem”; Hegel entende a como “o saber absoluto”; Whitehead, o papel da filosofia “é o de fornecer uma explicação orgânica do universo”. Para Karl Jasper filosofar significa “estar a caminho”. No entender do filosofo alemão “as interrogações são mais importantes que as respostas e, cada uma das destas respostas, transforma-se em nova interrogação”.
Platão definia a Filosofia como “um saber verdadeiro que deve ser usado embenefício dos seres humanos”.Descartes dizia que a Filosofia é “o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito detodas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, aconservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes”.Kant afirmou que a Filosofia é “o conhecimento que a razão adquire de si mesmapara saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade afelicidade humana”. Espinosa afirmou que a Filosofia é “um caminho árduo e difícil, mas que pode ser
percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade”.
(Chaui, 2002: p.17).
Entretanto, há dificuldade em definir a Filosofia e essa dificuldade existe no facto de não haver Filosofia, mas sim, filosofias.De acordo com Sartre essa dificuldade está no facto de “cada filósofo tem a sua concepção filosófica e a sua própria concepção sobre o que é a Filosofia” (Chambisse&Cossa, 2013:18), porque nem todos os filósofos vivem na mesma época, razão pela qual têm motivações particulares diferentes e têm problemas diferentes por resolver, ou seja, cada época tem os seus problemas e a Filosofia procura responder as perguntas do seu tempo. Portanto, “não existe uma definição universal, aceite por todos os filósofos”.
AFilosofia interessa-se por aquele instante em que arealidade natural (o mundo das coisas) e a história (o mundo dos homens)tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando o sensocomum já não sabe o que pensar e dizer, pois as ciências e as artes ainda não sabemo que pensar e dizer.
No entender de Platão e Aristóteles, filósofos gregos, consideraram que o espanto e admiraçãosão os dois elementos, cujos nasce a filosofia” (Borges, etall, 2008: 10).É importante frisar que existe uma filosofia espontânea, cuja “é aquela que toda a gente, do impulso que todo e qualquer indivíduo tem para questionar e tentar obter respostas, presentes na sabedoria comum”; também existe uma filosofia sistemática “própria dos especialistas desta área do saber, mais rigorosa, porque está sujeita a depuração conceitual e logico-racional”.Portanto, aqui debruçar-se-á sobre a filosofia sistemática (idem: 10).Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, buscaencadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentaçãoracional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica podefazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancemuma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu acho que”, mas depoder afirmar “eu penso que” (Chaui, 2008: 13).
Para que Filosofia?
Muitos fazem uma pergunta: afinal, para que Filosofia?É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, porexemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Paraque história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomiaou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo achamuito natural perguntar: Para que Filosofia?
No entender de Marilena Chaui (2002: p.10) “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual omundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso,se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça nomundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que sãoperfeitamente inúteis.
AFilosofia seria a arte do bem viver. Estudando as paixões e os vícios humanos, aliberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão para impor limitesaos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de modo honesto e justo nacompanhia dos outros seres humanos, a Filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver (idem: p.11).
Abordagem do conceito “Filosofia” pelo seu objecto de estudo
O filósofo situa-se perante o seu objectonuma atitude diferente de qualquer outro conhecedor; de acordo com José Ortega Y Gasset (filósofo espanhol do século XX), admite que a Filosofia tem um objecto próprio “que não é nenhum dos restantes objectos”, pois ele “é o objecto integral, o autentico todo, o que não deixa nada de fora”.
A primeira característica que distingue a filosofia de outras ciências ou formas de saber é porque ela “estuda toda a realidade ou pelos menos, procura oferecer explicação completa e exaustiva de esfera particular da realidade”, isto é, “a filosofia estuda a todo, a totalidade do real” (Mondin, 2008: 8).
Enquanto as ciências têm como objecto de estudo uma parte, uma determinada área da realidade material ou imaterial, a Filosofia procura compreender “a totalidade do real” material e imaterial; ela procura compreender “o universo no seu todo, ou seja, a totalidade do universo”. Esse todo, que é o objecto da Filosofia, não é uma mera soma das partes, mas antes algo integralmente organizado, estruturado. Por isso é que se pode filosofar a partir de qualquer objecto, fenómeno ou facto, uma vez que, qualquer nque seja, é no todo que se encontra o seu lugar e o seu fundamento último, que no final das contas é o fundamento primeiro (Chambisse& Cossa, 2013:p.18).
Abordagem do conceito “Filosofia” pelo seu método (a reflexão crítica)
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retornoa si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para simesmo, interrogando a si mesmo.A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do pensamentosobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como é possível opróprio pensamento (Chaui, 2002: p. 12).
Igualmente, o método da filosofia consiste em enunciar os problemas com clarezae examinar com espirito crítico as diversas soluções. É importante frisar que o metido envolve a “discussão racional” e “com espirito crítico”, cujos são acompanhados com a “atitude racional e atitude crítica”. O método da filosofia, diz Battista Mondin (2008: p.8) é o da justificação lógico-racional, pois a filosofia deseja oferecer explicação conclusiva e, para conseguir, serve-se da razão.
Bibliografia
BORGES, José F; PAIVA, Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução à Filosofia 11ª classe. Maputo: Plural Editores, 2011.
CHAMBISSE, Ernesto D; & COSSA, José Francisco. Filosofia 11ª classe. Maputo: Texto Editores, 2013. 
CHAUI, Marilena. Convite á Filosofia. S. Paulo: Edições Ática, 2002.
MENDES, Ademir A. P; BORGES, Anderson de Paula; KESTRING, Bernardo; etall. Filosofia: ensino Médio. 2ª edição. Brasil, 2007.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os filósofos do Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo: Paulus, 2008.

2 comentários:

  1. Esta informação é bastante interessante e ajudou-me bastante, não só a dar um passo para a compreensão da filosofia, mas também para descobrir que cada dia é uma lição de filosofia!

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  2. Esta informação é bastante interessante e ajudou-me bastante, não só a dar um passo para a compreensão da filosofia, mas também para descobrir que cada dia é uma lição de filosofia!

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