segunda-feira, 28 de agosto de 2017

UNIDADE TEMÁTICA IV: INTRODUÇÃO À LÓGICA I



Breve História da Lógica
A Grécia clássica aparece historicamente como o berço da filosofia. Por volta do século VI a.C., os primeiros filósofos pré-socráticos redigem em prosa um discurso que se opõe à atitude mítica predominante nos poemas de Homero e Hesíodo. O novo modo de pensar é decomposto na sua estrutura por Aristóteles[1] (séc. IV a.C.) na obra Analíticos. Como o próprio nome diz, trata-se de uma análise do pensamento nas suas partes integrantes. Essa e outras obras sobre o assunto foram denominadas mais tarde e, em conjunto, Órganon, que significa “instrumento” (de facto, instrumento para se pensar correctamente) (ARANHA, 1993: 97).
Conceito e Objecto da Lógica
A lógica é uma disciplina filosófica, cuja dedica-se “ao estudo das leis, princípios gerais do pensamento válido”. A lógica é uma ciência que tem por objecto de estudo o “pensamento e do discurso correcto”.
Etimologicamente, lógica significa “ciência do logos”. O termo logos em grego, significa palavra, discurso, razão, pensamento. A lógica sendo a ciência do logos é definida como “ciência da razão ou do pensamento correcto, ou seja, é o estudo das condições do pensamento válido”, isto é, do pensamento que procura alcançar a verdade.
No entender de Killer e Bastos “a lógica é a disciplina filosófica que estuda as formas do pensamento, da linguagem descritiva, do pensamento, das leis da comunicação e do raciocínio correcto, dos métodos e princípios que regem o pensamento humano”. Assim, a lógica é a ciência que estuda as formas e as leis do pensamento válido.
A lógica como ciência surge no século IV a. C e o seu fundador foi Aristóteles. Desta forma, Aristóteles é considerado como o pai da Lógica, porque estabeleceu os primeiros princípios, percebidos por intuição, e que são anteriores a qualquer raciocínio, servindo de base a todos os argumentos. Esses princípios, que se relacionam entre si são: o Princípio de Identidade, o Princípio de não Contradição e o Principio do Terceiro Excluído (idem: 98).
Aristóteles foi o primeiro a fazer um estudo sistemático dos conceitos, isto é, das ideias, procurando descobrir as propriedades que eles têm enquanto produzidas pela nossa mente, como podem ser unidos e separados, divididos e definidos e, como é possível tirar conceitos novos a partir de conceitos conhecidos anteriormente.
Os resultados dessas pesquisas encontram-se reunidos no Órganon, obra que divide-se em cinco livros, porem este no não foi dado pelo autor, mas sim, por estudiosos que procuravam reunir os manuscritos da lógica aristotélica em um só volume. Lembrando que, o Órganon significa “instrumento” de conhecimento. Assim, a lógica, de facto, é um instrumento de pensamento” (Mondin, 2008: 88).
A Linguagem como Fundamento da condição Humana
A forma como as crianças adquirem e desenvolvem a linguagem não é um assunto acabado. A linguagem expressa a relação entre o homem e o mundo, na medida em que a linguagem humana é a palavra. Uma linguagem não se desenvolve em abstracto, mas em função de um projecto. O projecto, mesmo que implícito, era de construir uma Torre que atingisse os céus, era de trocar informações, porque os “homens e as mulheres estão programados para falar e aprender línguas”, visto que, a linguagem é uma necessidade de comunicação.
Linguagem e Comunicação
A linguagem “é capacidade que o ser humano tem para expressar-se, transmitir ideias, valores ou sentimentos” (Borges, et all, 2011: 184). Em geral, linguagem é o uso de signos intersubjectivos, que são os que possibilitam a comunicação. Enquanto, língua é o conjunto organizado de signos linguísticos.
A distinção entre língua e linguagem foi estabelecida por Ferdinand Saussure, cujo definiu a língua como “um produto social da faculdade de linguagem e aos mesmo tempo, é um conjunto dos costumes linguísticos que permitem um sujeito compreender e fazer-se compreender (ABBAGNANO, 2007: 615). 
Igualmente, a linguagem é definida por Rosental e Iudin (1981: 265) como “um sistema de sinais de qualquer natureza física que cumpre uma função cognitiva e uma função comunicativa no processo da actividade humana”. A linguagem que se insere no âmbito cultural tem de ser aprendida sob forma de língua própria da comunidade onde nascemos ou crescemos. A linguagem enquanto processo de comunicação implica três elementos: um emissor, mensagem e um receptor.
Noam Chomsky considera que existe nos humanos uma faculdade cognitiva especifica, um módulo da mente a que chama de Faculdade de Linguagem. Trata-se de uma característica universal, comum a todos os humanos, que Chomsky procura analisar a partir de uma ideia de Gramática Universal (GU). No entanto, Chomsky, entende que a faculdade de linguagem é inata, geneticamente determinada. Aprender uma língua, aprender a falar é um desenvolvimento, ou seja, Chomsky “atribui o desenvolvimento da linguagem às capacidades inatas da criança, que nasceria com as estruturas necessárias ao despertar da linguagem” (Marques, 2012: 10.         
De acordo com Chomsky, da Gramática Universal resultam as gramáticas mentalmente representadas das línguas realmente faladas, mas essa gramática deve ser universal para acomodar o facto de qualquer criança poder vir a falar quer português, quer Inglês, quer qualquer outra língua. O Módulo é um sistema informacionalmente isolado de outras capacidades cognitivas, como por exemplo, a fixação de crenças.
Entretanto, para que a mensagem seja construída pelo emissor e percebida pelo receptor é necessário um sistema de signos que ambos conhecem e partilham (Código linguístico). No entender de Charles Peirce, o signo é aquilo que substitui qualquer coisa ou alguém, ou seja, que representa ou simboliza um aobjecto ou facto para alguém na ausência desse objecto ou facto.
De facto, toda linguagem é um sistema de signos. O signo, como dissemos, “é uma coisa que está em lugar de outra”, sob algum aspecto. O signo está no lugar do objecto que ele representa, essa representação pode assumir aspectos variados, dependendo do tipo de relação que o signo mantem com o objecto representado. Assim, o signo relaciona-se com o objecto de forma a dar origem em nossa mente a um segundo signo que explica o primeiro.
 Exemplo: para explicar o signo Casa a uma criança, podemos fazer o desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é o segundo signo que explica o primeiro, pela semelhança com o objecto representado. Um sinónimo também explica um signo. Continuando a usar o exemplo “casa”, poderíamos explicá-lo através da palavra lar. Este segundo signo (lar) explica o primeiro em sentido bastante específico de “minha casa ou lugar onde moro e considero meu refúgio”. Essa explicação é diferente da oferecida pelo desenho, que se refere mais à arquitectura que à relação afectiva que mantemos com o lugar onde moramos.
Portanto, se a mensagem “Casa” fosse proferida em Emakhua, em vez de ser proferida em Português e, supondo que um dos interlocutores não fala Emakhua, então, não poderia decifrar a mensagem. O código linguístico “é um conjunto de signos e regras gramaticais e tem de ser conhecido e partilhado pelos interlocutores para que haja retorno da mensagem e efectiva comunicação”.
Outrossim, para decifrar o “sentido” de uma mensagem no acto de comunicação é pois fundamental estar em contexto. Deste modo, a função primordial de comunicação, a linguagem compreende algo mais do que a simples transmissão de uma mensagem de um emissor para um receptor. Assim, a linguagem é um/uma:
*      Processo dinâmico que envolve a intersubjectividade;
*      Via de comunicação que evidencia a complexidade do sujeito;
*      Prática que realiza-se na comunicação social, concretizando-se na fala através da língua.    
Linguagem, Pensamento e Discurso
Fazendo uma reminiscência, dissemos que o termo logos significa pensamento, palavra, razão, discurso. Porém, existe uma relação entre o pensamento, linguagem e discurso. A linguagem sendo a capacidade de comunicar e o pensamento sendo a capacidade de formular juízos e raciocínios; de produzir ideias.   
Existem diversos tipos de pensamento. Há o pensamento concreto, que se forma a partir da percepção, ou seja, da representação de objectos reais, e é imediato, sensível e intuitivo; e o pensamento abstracto, que estabelece relações (não perceptíveis), que cria os conceitos e as noções gerais e abstractas, é mediato (precisa da mediação da linguagem) e racional (ARANHA & MARTINS, 1993:65).
Para cada tipo de pensamento há um tipo de linguagem adequado. Ora, para o pensamento abstracto e conceitual, que se afasta do sensível, do individual, a língua se apresenta como condição necessária, por ser um sistema de signos simbólicos que permite-nos transcender o dado vivido e construir um mundo de ideias (ARANHA & MARTINS, 1993:666).
Discurso “é a organização das ideias (juízos e raciocínios) e a sua expressão através da palavra, tendo em vista um objectivo”, ou seja, discurso é uma operação mental que se processa por uma série de operações elementares e sucessivas, encadeando-se numa sequência ordenada de enunciados em que cada um retira o seu valor, procurando chegar a determinadas conclusões.
Entretanto, há uma relação de indissociabilidade existente entre o pensamento e a linguagem. O pensamento desenvolve-se na e pela linguagem. Não há pensamento fora da linguagem; o pensamento só pode exercer a sua actividade na medida em que se encontra enraizado na linguagem.           
O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein escreveu a sua primeira obra intitulada Tratado Lógico Filosófico, onde fala de uma teoria de linguagem como modelo. No entender de Wittgenstein “a linguagem é uma representação projectória dos factos da realidade; nós fazemos a representação dos factos; a representação é o modelo da realidade; por seu turno, a representação deve ter em comum com a realidade para poder representá-la”. Por exemplo, a vida de um homem feliz é diferente a de um homem infeliz. Daí que Wittegenstein afirma que “os limites da minha linguagem, significam os limites do meu mundo; que o mundo é meu mundo revela-se no facto de os limites da linguagem (da linguagem que apenas compreendo), significarem os limites do meu mundo” (WITTEGENSTEIN, 1961: 129).        
Wittgenstein que apresentou no Tractatus uma noção representativa da linguagem, viu-se obrigado a mudar a sua teoria nas Investigações Filosóficas, onde desenvolveu-a sob a forma de “jogo”, uma perspectiva da linguagem como algo “indissociável da vida de quem a usa”; como um instrumento que se utiliza com formas e fins num determinado contexto (CARVALHO, 1994: 123). Assim, o que dá significado a um enunciado não é mais a sua capacidade representativa do mundo natural, mas sim, a sua conexão com o contexto de enunciação.    
Desta forma, a linguagem é a condição humana, ou seja, a linguagem é o único modo de ser do pensamento. Enquanto, discurso refere-se às ideias produzidas pelo pensamento e organizadas pela linguagem para serem transmitidas a alguém.  
Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola.  Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Martins Fontes. 2007. 
ARANHA, Lúcia de Arruda.  Filosofando, Introdução à Filosofia. 2ª Edição. São Paulo: Editora Moderna, 1993.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. & MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. Lisboa: Editora Moderna, 2000.
BORGES, José Ferreira; PAIVA, Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução à Filosofia 11ª Classe. Moçambique: Plural Editores, 2015.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os Filósofos do Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo: Paulus, 2008.
MARQUES, Ramiro. Ensinar a ler, aprender a ler: um guia para pais e educadores. 11ª Edição. Lisboa: Texto Editores, 2012.




[1] Nasceu na cidade de Estagiros, Macedónia na Grécia Antiga. Foi discípulo de Platão, mestre de Alexandre Magno e autor do “Órganon”. (MONDIN, 2008).

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