Breve História da
Lógica
A Grécia clássica aparece
historicamente como o berço da filosofia. Por volta do século VI a.C., os
primeiros filósofos pré-socráticos redigem em prosa um discurso que se opõe à
atitude mítica predominante nos poemas de Homero e Hesíodo. O novo modo de
pensar é decomposto na sua estrutura por Aristóteles[1] (séc. IV a.C.) na obra Analíticos.
Como o próprio nome diz, trata-se de uma análise do pensamento nas suas partes
integrantes. Essa e outras obras sobre o assunto foram denominadas mais tarde
e, em conjunto, Órganon, que significa “instrumento” (de facto, instrumento para se pensar
correctamente) (ARANHA, 1993: 97).
Conceito e Objecto da Lógica
A
lógica é uma disciplina filosófica, cuja dedica-se “ao estudo das
leis, princípios gerais do pensamento válido”. A lógica é uma ciência que tem por objecto de
estudo o “pensamento e do discurso correcto”.
Etimologicamente,
lógica
significa “ciência do logos”. O termo logos em grego, significa palavra,
discurso, razão, pensamento.
A lógica sendo a ciência do logos é definida como “ciência da razão
ou do pensamento correcto, ou seja, é o estudo das condições do pensamento
válido”, isto é, do pensamento
que procura alcançar a verdade.
No
entender de Killer e Bastos “a lógica é a disciplina filosófica
que estuda as formas do pensamento, da linguagem descritiva, do pensamento, das
leis da comunicação e do raciocínio correcto, dos métodos e princípios que
regem o pensamento humano”.
Assim, a lógica é a ciência que estuda as formas e as leis do pensamento
válido.
A lógica como ciência surge no século IV a. C e o
seu fundador foi Aristóteles. Desta forma, Aristóteles é considerado como o pai da Lógica,
porque estabeleceu os primeiros princípios, percebidos por intuição, e que são
anteriores a qualquer raciocínio, servindo de base a todos os argumentos. Esses
princípios, que se relacionam entre si são: o Princípio de Identidade, o
Princípio de não Contradição e o Principio do Terceiro Excluído (idem: 98).
Aristóteles foi o primeiro a fazer
um estudo sistemático dos conceitos, isto é, das ideias, procurando descobrir
as propriedades que eles têm enquanto produzidas pela nossa mente, como podem
ser unidos e separados, divididos e definidos e, como é possível tirar
conceitos novos a partir de conceitos conhecidos anteriormente.
Os resultados dessas pesquisas
encontram-se reunidos no Órganon, obra que divide-se em cinco livros,
porem este no não foi dado pelo autor, mas sim, por estudiosos que procuravam
reunir os manuscritos da lógica aristotélica em um só volume. Lembrando que, o Órganon
significa
“instrumento” de conhecimento. Assim, a lógica, de facto, é um
instrumento de pensamento” (Mondin, 2008: 88).
A Linguagem como Fundamento da condição Humana
A forma como as crianças adquirem e
desenvolvem a linguagem não é um assunto acabado. A linguagem expressa a
relação entre o homem e o mundo, na medida em que a linguagem humana é a palavra. Uma linguagem não se desenvolve
em abstracto, mas em função de um projecto. O projecto, mesmo que implícito,
era de construir uma Torre que atingisse os céus, era de trocar informações,
porque os “homens e as mulheres estão programados para falar e aprender
línguas”,
visto que, a linguagem é uma necessidade de
comunicação.
Linguagem e Comunicação
A linguagem “é
capacidade que o ser humano tem para expressar-se, transmitir ideias, valores
ou sentimentos”
(Borges, et all, 2011: 184). Em geral, linguagem é
o uso de signos intersubjectivos, que são os que possibilitam a comunicação. Enquanto, língua é
o conjunto organizado de signos linguísticos.
A distinção entre língua e
linguagem foi estabelecida por Ferdinand Saussure, cujo definiu a língua
como “um
produto social da faculdade de linguagem e aos mesmo tempo, é um conjunto dos
costumes linguísticos que permitem um sujeito compreender e fazer-se
compreender”
(ABBAGNANO, 2007: 615).
Igualmente, a linguagem é definida
por Rosental e Iudin (1981: 265) como “um sistema de sinais
de qualquer natureza física que cumpre uma função cognitiva e uma função
comunicativa no processo da actividade humana”. A linguagem que se insere no
âmbito cultural tem de ser aprendida sob forma de língua
própria da comunidade onde nascemos ou crescemos. A linguagem enquanto processo
de comunicação implica três elementos: um
emissor, mensagem e um receptor.
Noam Chomsky considera que existe
nos humanos uma faculdade cognitiva especifica, um módulo da mente a que chama
de Faculdade de Linguagem. Trata-se de uma característica
universal, comum a todos os humanos, que Chomsky procura analisar a partir de
uma ideia de Gramática Universal (GU). No entanto, Chomsky, entende que a
faculdade de linguagem é inata, geneticamente determinada. Aprender
uma língua, aprender a falar é um desenvolvimento, ou seja, Chomsky “atribui
o desenvolvimento da linguagem às capacidades inatas da criança, que nasceria
com as estruturas necessárias ao despertar da linguagem” (Marques, 2012: 10.
De
acordo com Chomsky, da Gramática Universal resultam as gramáticas mentalmente
representadas das línguas realmente faladas, mas essa gramática deve ser
universal para acomodar o facto de qualquer criança poder vir a falar quer
português, quer Inglês, quer qualquer outra língua. O Módulo é um sistema
informacionalmente isolado de outras capacidades cognitivas, como por exemplo,
a fixação de crenças.
Entretanto,
para que a mensagem seja construída
pelo emissor e percebida pelo receptor é necessário um sistema de signos que ambos conhecem
e partilham (Código linguístico). No entender de Charles Peirce, o signo é aquilo que substitui qualquer coisa ou alguém, ou seja, que
representa ou simboliza um aobjecto ou facto para alguém na ausência desse
objecto ou facto.
De facto, toda
linguagem é um sistema de signos. O signo, como dissemos, “é uma coisa que está em lugar de
outra”, sob algum aspecto. O signo está no lugar do objecto que ele
representa, essa representação pode assumir aspectos variados, dependendo do
tipo de relação que o signo mantem com o objecto representado. Assim, o signo
relaciona-se com o objecto de forma a dar origem em nossa mente a um segundo
signo que explica o primeiro.
Exemplo:
para explicar o signo Casa a uma criança, podemos
fazer o desenho de uma casa. O desenho, nesse caso, é o segundo signo que
explica o primeiro, pela semelhança com o objecto representado. Um sinónimo
também explica um signo. Continuando a usar o exemplo “casa”, poderíamos
explicá-lo através da palavra lar. Este segundo signo (lar) explica o primeiro
em sentido bastante específico de “minha casa ou lugar onde moro e considero
meu refúgio”. Essa explicação é diferente da oferecida pelo desenho, que se
refere mais à arquitectura que à relação afectiva que mantemos com o lugar onde
moramos.
Portanto, se a mensagem “Casa” fosse proferida em Emakhua,
em vez de ser proferida em Português e, supondo que um dos interlocutores não
fala Emakhua, então, não
poderia decifrar a mensagem. O código linguístico “é
um conjunto de signos e regras gramaticais e tem de ser conhecido e partilhado
pelos interlocutores para que haja retorno da mensagem e efectiva comunicação”.
Outrossim, para decifrar o “sentido” de uma mensagem no acto
de comunicação é pois fundamental estar em contexto. Deste modo, a função primordial
de comunicação, a linguagem compreende algo mais do que a simples transmissão
de uma mensagem de um emissor para um receptor. Assim, a linguagem é um/uma:



Linguagem, Pensamento e Discurso
Fazendo
uma reminiscência, dissemos que o termo logos
significa pensamento, palavra, razão,
discurso. Porém, existe uma relação entre o pensamento, linguagem e
discurso. A linguagem sendo a capacidade de comunicar e o pensamento sendo a capacidade de formular juízos e raciocínios; de produzir ideias.
Existem diversos tipos de pensamento. Há o pensamento
concreto, que se forma a partir da percepção, ou seja, da representação de objectos
reais, e é imediato, sensível e intuitivo; e o pensamento abstracto, que
estabelece relações (não perceptíveis), que cria os conceitos e as noções
gerais e abstractas, é mediato (precisa da mediação da linguagem) e racional
(ARANHA & MARTINS, 1993:65).
Para cada tipo de pensamento há um tipo de linguagem
adequado. Ora, para o pensamento abstracto e conceitual, que se afasta do
sensível, do individual, a língua se apresenta como condição necessária, por
ser um sistema de signos simbólicos que permite-nos transcender o dado vivido e
construir um mundo de ideias (ARANHA & MARTINS, 1993:666).
Discurso “é
a organização das ideias (juízos e raciocínios) e a sua expressão através da
palavra, tendo em vista um objectivo”, ou seja, discurso é uma operação mental que se processa por uma série de
operações elementares e sucessivas, encadeando-se numa sequência ordenada de
enunciados em que cada um retira o seu valor, procurando chegar a determinadas
conclusões.
Entretanto,
há uma relação de indissociabilidade existente
entre o pensamento e a linguagem. O pensamento desenvolve-se
na e pela linguagem. Não há pensamento fora da linguagem; o pensamento só pode
exercer a sua actividade na medida em que se encontra enraizado na linguagem.
O
filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein escreveu a sua primeira obra intitulada Tratado Lógico Filosófico, onde fala de
uma teoria de linguagem como modelo. No entender de Wittgenstein “a linguagem é uma representação projectória
dos factos da realidade; nós fazemos a representação dos factos; a
representação é o modelo da realidade; por seu turno, a representação deve ter
em comum com a realidade para poder representá-la”. Por exemplo, a vida de
um homem feliz é diferente a de um homem infeliz. Daí que Wittegenstein afirma
que “os limites da minha linguagem,
significam os limites do meu mundo; que o mundo é meu mundo revela-se no facto
de os limites da linguagem (da linguagem que apenas compreendo), significarem
os limites do meu mundo” (WITTEGENSTEIN, 1961: 129).
Wittgenstein
que apresentou no Tractatus uma noção
representativa da linguagem, viu-se obrigado a mudar a sua teoria nas Investigações Filosóficas, onde
desenvolveu-a sob a forma de “jogo”, uma perspectiva da linguagem como algo
“indissociável da vida de quem a usa”; como um instrumento que se utiliza com
formas e fins num determinado contexto (CARVALHO, 1994: 123). Assim, o que dá
significado a um enunciado não é mais a sua capacidade representativa do mundo
natural, mas sim, a sua conexão com o contexto de enunciação.
Desta
forma, a linguagem é a condição humana, ou seja, a linguagem é o único modo de ser do pensamento. Enquanto, discurso refere-se às ideias produzidas pelo pensamento e organizadas
pela linguagem para serem transmitidas a alguém.
Bibliografia
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Martins Fontes.
2007.
ARANHA,
Lúcia de Arruda. Filosofando, Introdução à Filosofia. 2ª Edição.
São Paulo: Editora Moderna, 1993.
ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda. & MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia.
Lisboa: Editora Moderna, 2000.
BORGES, José Ferreira; PAIVA, Marta;
& TAVARES, Orlanda. Introdução à
Filosofia 11ª Classe. Moçambique: Plural Editores, 2015.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os Filósofos do Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo:
Paulus, 2008.
MARQUES, Ramiro. Ensinar a ler, aprender a ler: um guia para pais e educadores. 11ª Edição.
Lisboa: Texto Editores, 2012.
[1] Nasceu
na cidade de Estagiros, Macedónia na Grécia Antiga. Foi discípulo de Platão,
mestre de Alexandre Magno e autor do “Órganon”.
(MONDIN, 2008).
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