Metafísica
O
termo “Metafísica” deriva do grego,
onde “meta” significa “além”, “depois”. A metafísica é uma disciplina filosófica que estuda as primeiras causas e os primeiros
princípios de tudo o que existe e ou de tudo aquilo que pode vir a existir.
Aristóteles é considerado o pai da metafísica, porque havia chamado de Filosofia Primeira a ciência do Ser enquanto Ser (Saraiva, 1972: 312).
Entretanto,
a palavra metafísica foi criada por
Andrónico de Rodes, século I. a. C, ao coleccionar as obras de Aristóteles,
cujas não tinham nome e chamou-os de livros
que vêm depois da física, além da física. Assim, metafísica significa depois da física, além da física. Deste
modo, a metafísica estuda “tudo aquilo
que o mundo sensível não pode captar, ou seja, não têm resposta no plano da
experiência” (idem: 312).
Divisão da Metafísica
A
Metafísica divide-se em geral e
especial.
A
Metafísica Geral ou Ontologia estuda o Ser, isto é, o Ser enquanto Ser
ou Ente enquanto Ente;
A
Metafísica Especial estuda as regiões ou áreas específicas do ser, o
mundo (cosmologia), a alma (psicologia) e Deus (teologia). Ou seja, a
metafísica especial compreende:
ü A Cosmologia racional
ou estudo do mundo externo: o espaço e o
tempo, a matéria e a vida;
ü A psicologia racional
ou estudo da alma;
ü A teologia racional
ou estudo de Deus.
Ontologia
A
Ontologia é a ciência que estuda o Ser enquanto Ser, isto é, aquilo que faz com
que as coisas sejam o que são. Etimologicamente, Ontologia vem do grego “ontos”,
que significa “Ser”, “ente”, e logos “saber”, “ciência”. Aristóteles define a ontologia como “uma ciência
que estuda o Ser e as propriedades do Ser enquanto tal” (Mondin, 2008: 91).
No
entender de Aristóteles, há várias formas de falar do Ser, sobretudo as que ele
chama de categorias. De
acordo com o Estagirita, “as categorias
são conceitos gerais que se referem ao Ser ou aos objectos”. Em
Aristóteles, as categorias são géneros
supremos do Ser e correspondem a dez: substancia,
quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, situação, posse, acção e paixão. Isto significa que, qualquer
coisa ou modo do ser pode-se enquadrar numa das categorias, pois estas são “diversos modos de falar do Ser”.
Exemplo:
Homem (substância); preto (qualidade); Balama (lugar); Ontem (tempo).
Ser e Devir
O
lado “permanente” das coisas, representa “o
que são as coisas”, isto é, o seu ser.
O aspecto “mutável”, representa “a
transformação das coisas, o seu devir.
O Ser é a categoria da permanência; o devir a categoria da mudança. A relação entre Ser e Devir é uma ontológica.
Na
Antiguidade, os problemas do Ser e Devir já tinham sido tratados por
Parménides e Heráclito. De acordo com Parménides a única realidade é o Ser e não é possível nenhuma outra realidade,
nem o vir-a-ser (devir) como afirmara Heráclito. De
facto, nas palavras de Parménides, ou
uma coisa é ou não é. Se é, não pode vir-a-ser, porque já é. Se não é, não pode vir-a-ser, porque do nada não se tira nada. Concluindo Parménides, quis dizer que o
objecto do nosso pensamento é o Ser e que o não Ser não é pensável de alguma forma (Mondin, 2008: 33).
Igualmente,
Heráclito dissera que o mundo, o homem,
as coisas estão em incessante transformação; “as coisas são como um rio,
não há nada permanente”. O vir-a-ser é dado último e não pode ser decomposto,
porque tudo muda, tudo se transforma,
tudo tende ao devir (vir-a-ser)
(idem: 28).
Depois
de Heráclito e Parménides, outros filósofos reflectiram sobre as relações entre
Ser e Devir, entre Ser e não Ser. No entanto, Aristóteles afirmara que o ser pode dizer-se de muitas maneiras,
significando que o ser é ao mesmo tempo uno
e múltiplo, idêntico e diverso, transcendente aos vários
seres e, em simultâneo imanente a
todos eles. De forma a ter resposta sobre o problema, Aristóteles partiu dos
conceitos de substância e acidente, matéria e forma, acto e potência.
Substância e Acidente
O
termo latino “substantia” tem como
significado “estar debaixo de”e “o que
está debaixo de”. Ou seja, a palavra Substância
formou-se de dois elementos: sub-stare
(estar sob), cujo significado é:
permanência e interioridade, servindo
de suporte a certas qualidades sujeitas à mudança.
A
ideia de Substância nasceu da diversidade
das coisas, no espaço e mudanças no tempo, procurando-se saber, se não
haverá, sob as diversas coisas algo que
lhes seja comum e, sob as que mudam, algo
que lhes subsista? Foi assim, pela busca da Substância, na sua forma de elemento originário e invariável das coisas,
que o problema ontológico surgiu e entrou no domínio da Filosofia.
Antes
de definirmos o conceito de “Substância” é preciso partirmos da distinção feita
por Aristóteles entre as Substâncias primeiras
e as Substâncias segundas. As Substâncias Primeiras são os seres individuais, concretos e singulares; as
Substâncias Segundas são os conceitos universais extraídos dos seres
singulares e aplicáveis a cada um desses seres. Exemplo: o conceito animal (substância segunda), aplica-se a cada
um dos animais concretos que existem (substâncias primeiras).
De
acordo com Aristóteles, Substância é o que existe por si só (aquele homem,
aquela árvore), isto é, a substância é a
matéria. A matéria é essencial
para a constituição das coisas, ou seja, a
matéria é tudo aquilo com o qual algo se faz ou aquilo de onde um ser provém.
Exemplo: mesa é feita de madeira.
Para
Aristóteles, a Substância resulta da união de dois princípios: matéria e forma. A matéria é o que determina algo através daquilo de que foi feito,
enquanto a forma será dependente de
como o Ser está formado, ou seja,
depende da forma que recebeu ao ser gerado.
Todos
os seres concretos possuem matéria e forma que são os princípios
constitutivos da Substância, isto é,
a matéria e forma estão presentes
apenas nas substâncias sensíveis. Por outro lado, Aristóteles admite a
existência de Substâncias sem matéria,
cujas chamou de Substâncias puras. Deus é o modelo supremo da forma pura
para existir. Entende-se por Substância (Substância primeira) como algo que subsiste por si só e não
precisa de algo para existir.
O
Acidente é tudo aquilo que pode pertencer a uma coisa, isto é, é algo que precisa de alguma coisa para
existir. Aristóteles define Acidente
como algo que pode ou não ser
característico de uma só Substância ou sujeito. O acidente não pode existir sem a substância. Em
metafísica fala-se de Substância única sendo Deus, pois identifica-se com a natureza.
Trabalho de Investigação
ü O
que é Substância de acordo com os filósofos Descartes, Leibniz e Spinoza?
Acto e Potência
O
estagirita, em Metafísica usa o termo acto como sendo enteléquia, cujo significado é algo
acabado, ou seja, realizado. Aristóteles
procurou explicar o movimento, a mudança ou mesmo o “devir” através dos
conceitos de Acto e Potência. O movimento
é a passagem da Potência para o Acto, ou seja, a mudança ou o movimento equivalem à passagem de um estado de Potência a
um estado de Acto.
O
conceito de Potência não deve ser confundido como força, mas sim, ausência de perfeição em um Ser capaz
de vir a possui-la, pois uma Potência é
a capacidade de tornar-se alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a acção
de outro Ser já em acto. Entretanto, o conceito de Potência tem dois
significados, a saber:
ü Potência é
o poder ou a capacidade que um Ser dispõe para agir sobre si ou sobre outro, ou
que uma coisa possui para provocar uma mudança noutra coisa; exemplo: o
carpinteiro transforma a madeira em carteiras, mesa, etc.
ü Potência é
uma virtualidade, potencialidade ou capacidade que existe numa coisa para
passar a outro estado para sofrer uma mudança a qualquer tipo.
O
primeiro significado corresponde aquilo a que podemos chamar de Potências activa que é a própria do princípio de acção ou da causa eficiente;
ao passo que o segundo significado corresponde ao que podemos designar por potência passiva, que é própria da matéria
a qual funciona como substrato de
mudança, isto é, para haver mudança deve existir algo
que permanece (Borges, et all, 2015: 155).
Dito
de outra forma, entende-se por Potência a
possibilidade que uma matéria tem de vir
a ser algo em acto; é o carácter dinâmico da matéria, ou seja, um Ser em
Potência só pode-se tornar um ser em acto mediante algum movimento.
Enquanto
a potência é a capacidade que permite ao Ser mudar de actualidade, ou seja, o
carácter dinâmico do ser, o acto é “o
que faz ser aquilo que é”, é o ser
real, é o que determina. O acto determina o ser, constituindo a sua
realidade própria e o seu princípio, uma vez que, só pelo actual pode-se
entender o potencial e, o acto é
anterior à potência (Biriate & Geque, 2012: 40).
A
única coisa totalmente em acto é o Acto
Puro, cujo Aristóteles identifica com o Bem. Esse Acto não é nada em
potência, nem é realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo e,
não antecede a coisa nenhuma. A partir daí, S. Tomás de Aquino usou a noção de
Deus em que Deus seria o “acto puro” (Chambisse & Nhumaio, 2013: 123).
Assim,
o movimento e a mudança em geral, é a
passagem da potência ao acto ou do ser em potência ao ser em acto. Movimento
e mudança são termos que Aristóteles usa, muitas vezes, como sinónimos, embora
haja uma pequena distinção a fazer. Portanto, existem, de acordo com
Aristóteles quatro tipos de mudanças,
segundo quatro categorias específicas:
ü Segundo
a Substância – geração e corrupção;
ü Segundo
a Qualidade – alteração;
ü Segundo
a Quantidade – aumento e diminuição;
ü Segundo
o Lugar – translação.
Desta
forma, Potência é qualquer realidade
que, como a matéria (entendida como indeterminada, ou seja, é aquilo de que uma coisa é feito), tem
como propriedades ser indeterminada, ser passiva e ser capaz de assumir várias
determinações. O Acto é toda realidade que,
como a forma (forma é aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), tem como
característica ser determinado, finito, perfeito.
Bibliografia
BIRIATE, Manuel Mussa; & GEQUE,
Eduardo R. Graciano. Pré-Universitário –
Filosofia 12ª Classe. Maputo: Logman, 2012.
BORGES, José Ferreira; PAIVA, Marta;
& TAVARES, Orlanda. Introdução à
Filosofia 12ª Classe. Moçambique: Plural Editores, 2015.
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; &
NHUMAIO, Alcido Moniz Godi. Filosofia 12ª
Classe. Maputo: Texto Editores, 2013.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os Filósofos do Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo:
Paulus, 2008.
SARAIVA,
Augusto. Filosofia: segundo os programas do ensino Liceal. Lisboa,
1972.
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