domingo, 25 de fevereiro de 2018

O DINHEIRO E A MORAL NA VIDA HUMANA: uma reflexão da obra "O que o dinheiro não compra" em Michael Sandel


O DINHEIRO E A MORAL NA VIDA HUMANA
Por Sílvio Almirante[1]

Uma reflexão do livro “O que o Dinheiro não Compra: os limites morais do Mercado” de Michael Sandel (Nasceu em Minneapolis em 1953 e é um dos mais importantes filósofos de sua geração. Há cerca de duas décadas lecciona, na Univer­sidade de Harvard, o famoso curso Justice).
Michael J. Sandel é um filósofo norte-americano e professor da Universidade de Harvard, onde lecciona o curso de Justiça. É autor de vários livros, tais como, Justiça: o que é fazer a coisa certa, O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado, O Liberalismo e os limites da Justiça e entre outros livros.
O Mercado e a Moral
Para começar, recorremos as primeiras alegações de Sandel no livro What the Money can’t Buy, onde afirma que “há coisas que o dinheiro não compra, porém actualmente, não muitas”, pois hoje quase tudo está à venda. (Sandel, 2012; pág 9). Digam vocês se alguém aqui concorda ou não com Sandel?
Exemplos práticos, Sandel recorre o caso de:
*      Matrícula do seu filho numa Universidade de prestígio ou numa Escola de referência.
Embora o preço não seja divulgado, funcionários de certas Universidades de primeira linha aceitam alunos não brilhantes cujos pais sejam ricos e susceptíveis de fazer doações financeiras substanciais. Entretanto, e nós moçambicanos? Quantas vezes já vimos alunos a aprovarem de classe mesmo não tido se desempenhado durante o ano? Quantas vezes já foram “obrigados” a cooperar com o suborno pagando a mais o preço da matrícula para o nosso filho conseguir uma vaga na escola? Será que não estamos a alimentar a preguiça da nossa mente enchendo de que não há nada se consegue se dinheiro?  
*      Um bom atendimento médico, uma casa num bairro seguro.
*      Uma barriga de aluguer indiana: US$ 6.250. Os casais ocidentais em busca de uma mãe de aluguer recorrem cada vez mais a terceiros na Índia, onde a prática é legal e o preço corresponde a menos de um terço das taxas em vigor nos Estados Unidos. E entre outros exemplos.
De certa forma, no entender de Sandel parece que estamos caminhando para uma sociedade onde tudo está a venda. Mas por que ficar preocupado com o facto de estarmos caminhando para uma sociedade em que tudo está à venda?
Sandel raciocina da seguinte forma: o primeiro motivo te a ver com a desigualdade e o outro, com Corrupção. Isto porque, numa sociedade em que tudo está à venda, a vida fica mais difícil para os que dispõem de recursos modestos. Quanto mais o dinheiro pode comprar, mais importante é abundância (ou a sua falta) (Sandel, 2012. Pág 14). 
Entretanto, se a única vantagem da afluência fosse a capacidade de comprar iates, carros e ferias no exterior, as desigualdades de rende e riqueza não teriam grande importância. Mas, à medida que o dinheiro passa a comprar cada vez mais influência política, bom atendimento médico, uma casa num bairro seguro e não numa zona de alto índice de criminalidade, acesso a escolas de elite, e não as que apresentam maus resultados, a questão da distribuição de renda e de riqueza adquire importância muito maior. Quando todas as coisas boas podem ser compradas e vendidas, ter dinheiro passa a fazer toda a diferença do mundo (idem: pág. 14).  
O segundo motivo que Sandel não hesitou em abordar, pense embora é mais difícil de descrever está relacionado com a corrupção. O autor de Justiça, qual é a coisa certa a fazer, disse que não se trata de desigualdade e injustiça, mas da tendência corrosiva dos mercados. Eles podem ser corrompidos por essa prática de estabelecer preço para as coisas boas da vida. O leilão de bagas numa instituição de ensino pode aumentar sua renda, mas também corrói a integridade do estabelecimento e o valor de seu certificado.
Às vezes, os valores de mercado são responsáveis pelo descarte de princípios que, não vinculam aos mercados, devem ser respeitados. Assim, para decidir o que o dinheiro pode e não pode comprar, precisamos saber quais valores governarão as diferentes áreas da vida cívica e social, diz Sandel.
John Rawls[2] foi professor de Filosofia Política na Universidade de Harvard, autor do livro Uma Teoria da Justiça (1971), O Liberalismo Político (1993), O Direito dos Povos (1999), Justiça e Democracia e Justiça como Equidade. Na primeira obra Uma Teoria de Justiça, Rawls propõe uma nova concepção de ‘justiça’, cuja denominou de ‘justiça como equidade’. A ideia principal nesta obra é a de fazer entender de que “os princípios de justiça seriam aqueles que fossem objecto de concordância mútuo entre pessoas em condições equitativas” (RAWLS, 2003: 6).
Ao desenvolver a ideia de Liberalismo Político, Rawls foi levado a reformular sua exposição e defesa da teoria de justiça como equidade. Em Uma Teoria de Justiça, a justiça como equidade era parte de uma visão liberal abrangente, mas esta reformulação demonstra que essa teoria pode ser compreendida como uma forma de liberalismo político. Assim, fazendo, remodela os argumentos básicos a favor dos dois princípios de justiça que constituem o fundamento central de uma concepção de justiça como equidade.
Eis os dois princípios de justiça formulados por Rawls:
·      Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais que sejam compatíveis com um sistema semelhante de liberdades para todos;
·      As desigualdades sociais e económicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo consideradas vantajosas para todos, dentro dos limites da razoabilidade e vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos (RAWLS, 2000: 64).
Entretanto, Rawls começa seu argumento segundo o qual como pode-se entender a justiça regida por princípios escolhidos por cidadãos livres e iguais numa posição inicial de equidade? Rawls raciocina da seguinte forma: suponhamos que estamos reunidos para definir os princípios que governarão nossa vida colectiva para elaborar um contrato social. Que princípios seleccionaríamos? Provavelmente teríamos dificuldades para chegar a um consenso. Pessoas diferentes têm princípios diferentes, que reflectem seus diversos interesses, crenças morais e religiosas e posições sociais. Algumas pessoas são ricas, outras são pobres; algumas têm poder e bons relacionamentos; outras, nem tanto. Acima de tudo, temos de chegar a um consenso. Porém, até mesmo o consenso reflectiria o maior poder de alguns sobre os outros demais. Portanto, não há motivos para acreditar que um contrato social elaborado dessa maneira seja um acordo justo (Rawls citado por Sandel, 2012: 177).
Outrossim, suponhamos ainda que, ao nos reunir para definir os princípios, não saibamos a qual categoria pertencemos na sociedade. Imaginemo-nos cobertos por um “véu de ignorância” que temporariamente nos impeça de saber quem realmente somos. Não sabemos a que classe social ou género pertencemos e desconhecemos nossa raça ou etnia, nossas opiniões políticas ou crenças religiosas. Tampouco conhecemos nossas vantagens ou desvantagens, se somos saudáveis ou frágeis, se temos alto grau de escolaridade ou se abandonamos a escola, se nascemos em uma família estruturada ou em uma família desestruturada. Se não possuíssemos essas informações, poderíamos realmente fazer uma escolha a partir de uma posição original de equidade. Já que ninguém estaria em uma posição superior de vantagem, os princípios escolhidos seriam justos (idem: 178).
No entanto, de acordo com Sandel, “quando decidimos que determinados bens podem ser comprados e vendidos, estamos decidindo, pelo menos indirectamente, que podem ser tratados como mercadorias, como instrumento de lucro e uso” (Sandel, 2012. Pág 15). Mas nem todos os bens podem ser avaliados dessa maneira e o exemplo mais óbvio, no entender de Sandel são os seres humanos.
Kant havia dito que os seres humanos não devem ser usados ou sacrificados como meio para a consecução de determinado algo, porque eles são um “fim” em si mesmo e não um meio (cf. Almirante, 2016). Por exemplo, as crianças, diz Sandel, não podem ser colocadas à venda no mercado, mesmo que os compradores não maltratassem as crianças compradas, mas a existência de um mercado de crianças estaria expressando e promovendo uma maneira errada de trata-las (Sandel. 2012. Pág.15). Por que não? Porque “consideramos que os deveres cívicos não devem ser encarados como propriedade privada, mas como uma responsabilidade pública. Vende-los significa trata-los de maneira errada”.
Esses exemplos ilustram uma questão mais ampla: algumas das boas coisas da vida são corrompidas ou degradas quando transformadas em mercadoria. Desse modo, para decidir em que circunstancias o mercado faz sentido e quais aquelas em que deveria ser mantido a distancia, temos de decidir que valor atribuir aos bens em questão, visto que, saúde, educação, vida familiar, natureza, arte, deveres cívicos e assim por diante, são questões de ordem moral e política e não apenas económicas.
Um debate sobre o limite moral do mercado nos permitiria decidir, como sociedade, em que circunstancias os mercados atendem ao bem público e quais aquelas em que eles são intrusos. Sandel desafia-nos de que caso alguém concorde que a compra e venda de certos bens os corrompem ou degradam, será forçosamente porque acredita que certas maneiras de lhes atribuir valor são mais adequadas do que outras. Então, não faria sentido falar da corrupção de determinada actividade, a criação de filhos, por exemplo, se não acreditarmos que certas maneiras de ser um pai ou um cidadão são melhores do que outras.
São avaliações morais dessa natureza que estão por trás das poucas limitações ao mercado que ainda podemos constatar. Acreditamos que vender essas coisas significa uma maneira errada de les atribuir valor, cultivando atitudes negativas.
*      Existem coisas que o dinheiro não deveria comprar? Em caso afirmativo, como decidir quais bens e actividades podem ser comprados e vendidos e quais não o podem? Ou seja, existem coisas que o dinheiro de facto não compra?
O que o dinheiro pode e não pode comprar
A maioria das pessoas diria que sim, existem essas coisas de acordo com Sandel. Veja-se por exemplo, a amizade. Suponhamos que você queira ter mais amigos. Por acaso tentaria comprar um amigo? Não parece provável. Bastando para tal, reflectir por um momento para dar-se conta que não iria funcionar. Pois um amigo pelo qual se pagou não é a mesma coisa que um amigo de verdade. Podemos contratar alguém para fazer certas coisas que os amigos costuma fazer, como por exemplo, cuidar dos nossos filhos quando necessário. Embora todos esses serviços possam ser comprados, não é possível realmente comprar um amigo.
Desculpas e discursos comprados
Se não é possível comprar amizade, que dizer das manifestações de amizade, das expressões de intimidade, afecto ou arrependimento?
Em 2001, o New York Times publicou reportagem sobre uma empresa chinesa que oferece um serviço incomum: se alguém precisar pedir desculpas a outra pessoa, um amante rejeitado ou um sócio em desavença e não conseguir faze-lo pessoalmente, pode contratar a “Tianjin Desculpas” para faze-lo em seu lugar. O lema da empresa é Pedimos desculpas por você. Segundo a reportagem, os profissionais dos pedidos de desculpas são:
Homens e mulheres de meia-idade com formação universitária e que usam roupas discretas. São advogados, assistentes sociais e professores com “excelência capacidade verbal” e boa experiência de vida e que, recebem um treinamento adicional de orientação psicológica (Sandel, 2012: 97).     
Sandel interroga-se de tal forma se a empresa vem obtendo êxito ou sequer se ainda existe. Em segundo lugar, pergunta “será que um pedido de desculpas comprado funciona”? Se alguém nos prejudicar ou ofender e em seguida contratar alguém para tentar consertar a situação, será que ficaríamos satisfeitos? 
No entanto, se nenhum pedido de desculpas comprado, por mais extravagante que seja, pode substituir um pedido pessoalmente feito, é porque as desculpas, tal como os amigos, são o tipo de coisas que o dinheiro não pode comprar (Sandel, 2012. Pág. 98).
Suponhamos ainda que, no dia do seu casamento o seu padrinho faça um discurso de brinde de derreter os corações, tão comovente que você fique com lágrimas nos olhos. Mais tarde, vem a saber que não foram palavras próprias, mas compradas pela internet. Você ficaria chateado? O discurso de brinde perderia o significado que tinha antes de você saber que foi escrito por um profissional? Sandel afirma que maioria das pessoas, provavelmente acharia que sim, que um discurso de brinde de casamento comprado tem menos valor do que um autentico.  
Em forma de desfecho, Sandel recomenda que nem tudo deve ser considerado mercadoria ou algo de lucro, de forma que os princípios morais sejam levados a sério, pois na verdade, tem coisas que o dinheiro não pode comprar e nem os mercados vender.
O segredo do sucesso é conquistar aquilo que o dinheiro não pode comprar – Augusto Cury.
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Catarina Munguambe, +258 82 836 0170; Email: catarinajohane@gmail.com; e
Bento Marcos Email: marcobg@unisa.ac.za




Bibliografia
ALMIRANTE, Sílvio. O Significado do Liberalismo Político em John Rawls. Monografia Científica, Universidade Pedagógica, Nampula - Moçambique, 2016.   
RAWLS, John. Uma Teoria de Justiça. S. Paulo: Martins Fontes, 2000.
SANDEL, Michael. O que o Dinheiro não compra: os limites morais do Mercado. S. Paulo: Civilização Brasileira, 2012.




  






[1]  Técnico Superior em Administração Pública. Licenciado em Ensino de Filosofia. (http://lattes.cnpq.br/8351510536090972);
[2] Nasceu em Baltimore, a 21 de Fevereiro de 1921 e, morreu em Lexington, a 24 de Novembro de 2002.

Texto de Apoio No 2. 11 classe.



Tema: A Relação com o Trabalho
1.    Conceitos Teóricos
O trabalho é uma actividade importante para o estudo do homem. Actualmente compreende-se que o homem é trabalhador, criador de formas, fazedor de obras. Em um sentido genérico, Trabalho “é toda actividade através da qual o homem modifica o mundo, a natureza, de forma consciente e voluntária, para satisfazer suas necessidades básicas” (alimentação, habitação, vestimenta etc.). E através do trabalho que o homem põe em movimento as forças de que seu corpo é dotado, a fim de assimilar a matéria (JAPIASSÚ, 2001: 184).
De acordo com Nicola Abbagnano (2007: 964) “trabalho é toda actividade cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar o ambiente e satisfazer às necessidades humanas”. Por isso, o conceito de Trabalho implica: dependência do homem em relação à natureza, no que se refere à sua vida e aos seus interesses (isso constitui a necessidade); reacção activa a essa dependência, constituída por operações complexos, com vista à elaboração ou à utilização dos elementos naturais; grau mais ou menos elevado de esforço, sofrimento ou fadiga, que constitui o custo humano do trabalho.
2.    História do Trabalho
2.1.O Trabalho na Antiguidade Clássica
Na filosofia grega prevaleceu sempre uma consideração negativa do trabalho. Essa consideração do trabalho é devida a diversos motivos: concepção platónica do homem (o homem era somente alma e existia no mundo das Ideias no Hiperurâneo); exaltação da vida contemplativa (a alma não foi mais capaz de manter o esforço necessário para a contemplação e não conseguindo mais ver as Ideias); e a dureza do trabalho (actividade própria dos escravos).
Assim, no pensamento grego o trabalho é definido como “imitação e complemento da natureza”.
2.2. O Trabalho na Idade Medieval
Na época Patrística e Escolástica, atribui-se ao trabalho um instrumento de “purificação e salvação”. Todavia, continua-se a considera-lo como uma actividade servil.
3.    O Trabalho na Idade Moderna
Um novo modo de conceber o trabalho desenvolveu-se na época moderna: ele não é mais considerado como imitação da natureza, mas sim, com expressão da livre iniciativa humana. Portanto, com o trabalho o homem afirma a sua autonomia. Assim, o trabalho assume um significado antropológico: serve para formar e aperfeiçoar o homem.
Segundo Voltaire citado por Mondin (1980: 194) recordava a todos que desenvolvessem algum tipo de trabalho, com a finalidade de contribuir para o próprio sustento e para o bem-estar da humanidade. O trabalho elimina três males: o aborrecimento, o vício e a necessidade.
Em termos gerais e de acordo com a Enciclopédia Filosófica o trabalho é “toda actividade material e espiritual que procura um resultado útil” (cf. MONDIN, 1980: 194).
Segundo Battista Mondin (1980: 195) os elementos mais importantes que contribuem para distinguir o trabalho de outras actividades são três:
·      Acção Transitória que visa a um resultado concreto (intencionalidade do trabalho);
·      Uso do Corpo para transmitir energia (de modo a distinguir a actividade do trabalho reflexivo ou pedagógico);
·      Esforço: uma acção que implica “esforço e perseverança”.   

Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Martins Fontes. 2007. 
JAPIASSÚ, Hilton. & MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª Edição. R.
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 
MONDIN, Battista. O Homem quem é Ele? Elementos de Antropologia Filosófica. 5ª Edição. S. Paulo: Edições Paulinas, 1980.       
     
   
   

UNIDADE TEMÁTICA I: INTRODUÇÃO À LÓGICA II. 12a Classe


Tema: Lógica e Argumentação
A lógica é uma disciplina da filosofia, cuja estuda “as leis e princípios geris do pensamento correcto”. A lógica é uma ciência que tem por objecto de estudo o pensamento e o discurso válido, ou seja, a lógica é uma “ciência dologos, razão” que procura alcançar a verdade.
O objectivo de estudar a lógica é o de aprender a raciocinar de forma a obter coerência no pensamento, daí a importância de saber argumentar. Argumentar “é justificar uma afirmação ou negação que se faz, ou dar as razões para uma conclusão obtida”, é algo de bastante importância em muitas situações (Mortari, 2001: p.6).
Argumentação é a arte de persuadir, convencer alguém sobre determinada situação, isto é, dar razões para acreditar como verdadeiro a afirmação ou negação de uma ideia. A importância de uma boa argumentação (justificativa), vem do facto que, muita das vezescometemos “erros de raciocínio”, chegando a uma conclusão que simplesmente não decorre da informação disponível. Há contextos nos quais uma afirmação só pode ser aceite como verdadeira se for muito bem justificada (argumentada) (idem: p.6).
No entanto, a argumentação é uma questão de lógica em si, visto que, a lógica estuda os aspectos formais da argumentação, estuda os vários tipos de inferência que ocorrem na argumentação, ajudando a distinguir argumentos correctos dos incorrectos; oferece critérios ou princípios e regras que permite-nos identificar argumentos verdadeiros dos falsos (Chambisse&Nhumaio, 2008: p.8).esses princípios são: principio de identidade (o que é, é; o que não é, não é);o princípio de não contradição (uma coisa não pode ser e não ser, segundo a mesma perspectiva); o princípio do terceiro excluído (uma coisa deve ser ou não ser, não há uma terceira possibilidade).
Igualmente, temos as regras simples de inferência correcta: “se como, não sinto fome”; se tenho malaria, então, tenho febre”. Entretanto, a argumentação é uma questão de intercomunicação(diálogo), tendo em conta que nenhuma pessoa argumenta sozinho. A argumentação é um jogo dialécticoque não implica nenhuma eliminação dos contrários. Quem entra neste jogo deve estar preparado para ganhar sempre, admitindo a possibilidade da outra parte ter argumentos mais valiosos do que os seus. Portanto, ao argumentar é preciso que haja:
1.      A máxima cooperação – prestar informação suficiente sobre a sua argumentação, não fugir às responsabilidades, clarificar os argumentos e dar provas materiais e imateriais.
2.      A máxima da pertinência –falar do essencial sobre o assunto em discussão, não fugir do tema e evitar argumentos falsos.
3.      A máxima da relevância – concentrar-se no que é certo e efectivamente do interesse do tema.
Assim, a lógica constitui um auxiliar indispensável para uma boa argumentação, sendo que argumentar é oferecer razões a favor ou contra uma determinada tese ou conclusão, tendo por finalidade provocar uma adesão das pessoas a essa tese, pelo que é necessário que elas lhes pareça razoável. Deste modo, quanto maior for o nosso conhecimento dar regras lógicas, melhor será a estruturação e maior será acoerência do nosso discurso e maior será a probabilidade de defendermos bem as nossas teses e de persuadirmos e convencermos o auditório.
Lógica do Juízo e Proposição
Juízo “é o actode pensamento susceptível de ser verdadeiro ou falso”. Todo o juízo envolve uma asserção (afirmativa ou falsa), pois só quem afirma ou nega pode exprimir a falsidade ou a verdade (Saraiva, 1972: 36). Igualmente, define-se o juízo como “a operação mental pela qual se afirma ou se nega uma relação entre conceitos”, de forma a obter a verdade ou a falsidade. O pensamento e todas as operações mentais só ganharão existência quando expresso em linguagem verbal. Desta forma, o juízo enquanto operação mental se concretiza numa proposição (numa frase). Assim, a “proposição” é a “expressão verbal do juízo”.
Exemplo: Chove – é um juízo; chove e troveja – é uma conjunção de dois juízos; chove, troveja e faz frio – é uma conjunção de três juízos.
Chama-se proposição a expressão verbal (ou enunciado) do juízo. Os juízos anteriormente explicados, estão expressos, verbalmente, ou seja, em proposição. Todavia, quantos elementos existem num juízo? A resposta é: tantos e quantos necessários para produzir uma asserção. O número é variável, por vezes, basta um elemento: chove; outros intervém dois elementos: António estuda; outros três elementos: Aristóteles estagirita; outros ainda quatro elementos: Aristóteles discípulo de Platão.
Exemplo:
Severino Ngoenha                           é                             um filósofo moçambicano
      1º conceito                     elo de relação; ligação                              2º conceito
Estrutura de um Juízo Predicativo
A lógica tradicional (do tipo aristotélica) pretendeu reduzir esta diversidade de juízos a um modelo único: o juízo predicativo ou juízo de três elementos,da formula S é P. neste esquema de juízo,um atributo é afirmado ou negado de um sujeito, por intermedio de um verbo (o verbo Ser, chamado verbo copulativo ou simplesmentecópula).dito de outra forma, todo o juízo predicativo é constituído por três elementos que são: o Sujeito, a cópula e o predicado.
1.      Sujeito – é o ser a quem atribui-se o predicado, o termo relativamente pelo qual afirma-se ou nega-se algo.
2.      Predicado – é aquilo que se diz do sujeito, podendo ser afirmado ou negado.
3.      Cópula – é o elemento que relaciona o sujeito com o predicado.
Exemplo:
Osbalamensessãoinvejosos.
Quantificador               Sujeito   Cópula              Predicado
Se o sujeito (S) e o predicado (P) representam um conteúdo ou a matéria da proposição, a cópula representa a sua forma, podendo ser afirmativa (é) ou negativa(não é). Portanto, o juízo predicativo corresponde a fase descritiva do conhecimento (atribuição de propriedades). Entretanto, os juízos irregulares:chove, António estuda, Aristóteles estagirita, Aristóteles discípulo de Platão, são redutíveis à forma regular ou canónica:O tempo é chuvoso, António é estudante, Aristóteles é estagirita, Aristóteles foi discípulo de Platão.
Os juízos predicativos podem iniciar ou não por expressões que em si, não são conceitos, mas indicam a quantidade. A tais expressões designam-se por quantificadores.
1.      Todo (s), cujos equivalentes lógicos são os determinantes: a (as), o (os), nenhum, não existem, não há.
2.      Algum(ns), seus equivalentes: certos, nem todos, uma parte, a maioria, ou forma verbal, existem, há.
Esquema – padrão do Juízo e frases comuns equivalentes
Todo o juízo predicativo deve ser redutível à sua representação esquemática padrão (ou canónica), na sua forma afirmativa ou negativa:
Oval: S é P
Oval: S não é P
 

                                                ou

A proposiçãoé o enunciado que estabelece uma relação de afirmação ou negação entre termos, podendo tal relação ser considerada verdadeira ou falsa. A operação mental que está subjacente à formação da proposição eque permite estabelecer essa relação é o juízo. Somente as frases declarativas é que são proposições. Só os enunciados que atribuem, declaram, ou constatam alguma coisa, sendo susceptíveis de serem verdadeiras ou falsas é que se enquadram na categoria de proposições.
Classificação dos Juízos
Os juízos predicativos podem ser estudados e classificados em função, quer de cada um dos seus três elementos canónicos (S,Cop, P), quer em função da relação e do modo como o sujeito e o predicado o ligam. Isto é, um juízo predicativo pode ser classificado quanto à natureza da cópula (conhecida também como a forma do juízo), quanto à extensão e à compreensão do sujeito, à relação, à modalidade e, por fim, ao conteúdo por ele expresso. Os juízos classificam-se de diferentes maneiras, consoante o ponto de vista em que nos colocamos.
a)      Quanto à natureza da cópula ou forma do juízo: analisamos a conveniência ou não conveniência do predicado ao sujeito expresso pela forma afirmativa ou negativa da cópula. Assim, os juízos quanto à natureza podem ser:
Afirmativos – quando o juízo expressa a conveniência entre o sujeito e o predicado.
Exemplos:
Forma padrão de Juízos Afirmativos
Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos
Todos os moçambicanos são africanos
Os moçambicanos são africanos
Qualquer que seja moçambicano é africano

Alguns africanos são ricos
africanos ricos
Certos africanos são ricos
Existem africanos pobres
A maioria dos africanos são pobres

Negativos – quando o predicado não convém ao sujeito.
Exemplos:
Forma padrão de Juízos Negativos
Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos
Todos os africanos não são moçambicanos
Nenhum aluno é preguiçoso
Não há (ou não existem) alunos preguiçosos
Os alunos não são preguiçosos

Alguns alunosnão sãopreguiçosos
Nem todos os africanos são moçambicanos
Certos africanos não sãomoçambicanos
Uma parte dos africanos não são moçambicanos

b)      Extensão do Sujeito ou quantidade do juízo:os juízos quanto à extensão do sujeito ou à quantidade classificam-se em:
Universais –são juízos, cujo sujeito é tomado em toda a sua extensão, isto é, referem-se ou aplicam-se a todos os indivíduos da classe considerada. Na sua forma canónica, tais juízos são precedidos de partículas que nos confirmam a quantidade universal (daí a designação de quantificadores universais) como: todo/nenhum ou simplesmente pelo artigo definido o/o.
Exemplo:
Forma padrão de Juízos Universais
Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos
Todos os moçambicanos sãoafricanos
Os moçambicanos são africanos
Não há (ou não existem) alunos preguiçosos
Qualquer que seja moçambicano é africano

Nem todos os africanossão ricos
Os estudantes não são preguiçosos
Nenhum aluno é preguiçoso

Particulares: são juízos em que o sujeito é tomado ou considerado apenas em uma parte da sua extensão ou dos indivíduos da classe que representa. O sujeito é precedido na forma canónica de quantificadores: alguns, certos, uma parte, a maioria, etc.
Exemplo:
Forma padrão de Juízos Particulares
Frases do dia-a-dia com equivalências de juízos
Alguns moçambicanos são africanos
alunos inteligentes
Certos alunos são inteligentes

Alguns estudantes não são preguiçosos

Existem alunos não empenhados
Uma parte dos alunos gostam de ler
Nem todos os alunos gostam de ler
Certos alunos são faltosos

c)      Compreensão do Sujeito: fazendo uma reminiscência, na introdução à Lógica I, define-secompressão de um conceito como “o conjunto de características essenciais de um objecto ou classe de objectos”. Entretanto, analisaremos os juízos sob ponto de vista da inclusão ou exclusão do predicado na compreensão. Assim, conforme o predicado esteja ou não incluso na compreensão do sujeito do juízo, o juízo pode ser:
Analítico: juízos em que o predicado faz parte da compreensão do sujeito ou juízos em afirmamos do sujeito um atributo que lhe é essencial. Há uma identidade entre o sujeito e o predicado. Daí apenas limita-se em explicar ou decompor, dividir o sujeito.
Exemplo: o triangulo é um polígono de três ângulos. N.B: aqui o predicado explica, decompõe a ideia já expressa no sujeito.
Sintéticos: são juízos cujo atributo não faz parte da compreensão do sujeito, isto é, o predicado exprime algo acidental que se junta à ideia do sujeito. Exemplo: o quadro da sala é preto. N.B: a ideia expressa pelo predicado é nova e é adicionada à do sujeito.
d)     Relação: os juízos podem ser:
Categóricos: juízos formados por afirmação ou negação absoluta, sem reservas. Exemplo: os Países africanos são ricos em recursos naturais.
Hipotéticos: juízos constituídos por uma afirmação ou negação condicional ou disjuntiva. Exemplo: se Moçambique tem recursos naturais, então, é um País africano. Hipotético condicional; - Balama tem ou não tem recursos minerais; hipotético disjuntivo.
e)      Modalidade: os juízos podem ser:
Apodítico: o juízo diz-se apodítico quando enuncia uma relação, que não só é verdadeira, mas seria ilógico considerar falsa (duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si).Exemplo: todo circulo é redondo.N.B:o circulo é redondo, seria absurdo ser rectangular.
Assertórios ou contingentes: um juízo diz-se assertório quandoenuncia uma relação que, sendo verdadeira (são 19 horas), podia conceber-se como falsa (é falso que seja 19 horas).
Problemáticos, duvidosos ou possíveis: o juízo diz-se problema se enuncia uma relação possível,presumida como verdadeira, mas não afirmada expressamente como verdadeira.Exemplo: devem ser 19 horas. Talvez ainda chova.
Impossíveis: são juízos em que o predicado não pode convir, ou seja, não pode aplicar-se ao sujeito. Exemplo: todo o carro tem dois pneus. 



Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto D; & NHUMAIO, Alcido M.G. Filosofia 12ª classe. 2ª Edição. Maputo: Texto Editores, 2008.
BORGES, José F; PAIVA, Marta; & TAVARES, Orlanda. Introdução à Filosofia 12ª classe. Maputo: Plural Editores, 2015.
SARAIVA, Augusto.  Filosofia: segundo os programas do ensino Liceal. Lisboa, 1972.
MORTARI, Cezar A. Introdução à Lógica. S. Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial do Estado, 2001.