sábado, 11 de julho de 2015

Texto de Apoio No 3. 11 classe.



UNIDADE TEMÁTICA III: Teoria de Conhecimento
Tema: Conhecimento (Noções Básicas)
O que é o Conhecimento?
Segundo o Vocabulário de Lalande define a Teoria de Conhecimento (Gnosiologia) como o “estudo dos problemas relativos à origem, à natureza, valor e limites da faculdade de conhecer” (LALANDE apud SARAIVA, 1972: 198). A teoria do conhecimento é uma disciplina filosófica que investiga quais são os problemas decorrentes da relação entre Sujeito e Objecto do conhecimento, bem como as condições do conhecimento verdadeiro.
O Conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre o “Sujeito” que conhece e o “Objecto” a ser conhecido. No entanto, O conhecimento pode designar o acto de conhecer, enquanto relação que se estabelece entre a “consciência que conhece” e o “mundo conhecido”. Mas o conhecimento também se refere ao produto, ao resultado do conteúdo desse acto, ou seja, o saber adquirido e acumulado pelo homem. Para a consciência critica, a função do conhecimento envolve duas noções fundamentais: o Sujeito e o Objecto.
Segundo Augusto Saraiva (1972: 198) o conhecimento depende não só do objecto, como também do sujeito e, enquanto depende do sujeito é passível de ilusão e erro, que leva o homem a interrogar-se sobre o que “pode ou não” conhecer, sobre o que “vale ou não vale” o que conhece. A função do conhecimento aparece assim como fonte de interrogações e problemas. E para responder aquelas e tentar resolver estas, a Filosofia foi levada a formular uma Teoria de Conhecimento. Assim, o problema do conhecimento torna-se, portanto, crucial e a Filosofia precisa começar pelo exame da capacidade humana de conhecer, pelo entendimento ou sujeito do conhecimento. A teoria do conhecimento volta-se para a relação entre o pensamento e as coisas, a consciência (interior) e a realidade (exterior), o entendimento e a realidade; em suma, o sujeito e o objecto do conhecimento.
Portanto, o conhecimento é a apreensão pela mente a realidade circundante, ou seja, o conhecimento efectua-se quando existe concordância entre os elementos cognitivos do sujeito e as propriedades do objecto.
De acordo com Franklin Leopoldo e Silva citado por Mendes (2006: 62), os principais problemas que a Teoria do Conhecimento deve investigar são:
1) As fontes primeiras de todo conhecimento; 2) os processos que fazem com que os dados se transformem em juízos ou afirmações acerca de algo; 3) a forma adequada de descrever a actividade pensante do sujeito frente ao objecto do conhecimento; 4) O âmbito do que pode ser conhecido segundo as regras de verdade.
Conceito e Realidade
Em filosofia, o conceito designa uma ideia abstracta e geral sob a qual podemos unir diversos elementos. Só em parte é sinónimo de ideia, palavra mais vaga que designa tudo o que podemos pensar ou que contém uma apreciação pessoal: aquilo que podemos pensar de algo. Enquanto ideia abstracta construída pelo espírito, o conceito comporta, como elementos de sua construção: a) a compreensão ou o conjunto dos caracteres que constituem a definição do conceito (o homem: animal. mamífero, bípede etc.); b) a extensão ou o conjunto dos elementos particulares dos seres aos quais se estende esse conceito. A compreensão e a extensão se encontram numa relação inversa: quanto maior for a compreensão menor será a extensão; quanto menor for a compreensão maior será a extensão.
Segundo Japiassú & Marcondes (2001: 39) “o conceito é uma noção abstracta ou ideia geral designando seja um objecto suposto único (ex.: o conceito de Deus), seja uma classe de objectos (ex.: o conceito de cão). Do ponto de vista lógico, o conceito é caracterizado por sua extensão e por sua compreensão.
Realidade é tudo aquilo que existe, que é real. Conjunto de todas as coisas existentes. Característica ou qualidade daquilo que existe, ex.: a realidade do mundo exterior (Idem: 163). Quando certos filósofos idealistas se perguntam sobre a realidade do mundo exterior, estão se perguntando se o mundo possui uma existência efectiva exterior a nosso pensamento ou se não passa de um conjunto de representações de nosso pensamento. Quer reconheçamos, quer não, ao mundo exterior uma realidade assim entendida, todos os filósofos está de acordo em considerar os objectos do pensamento como realidades.

Elementos do Conhecimento
O homem deu-se conta de que no acto do conhecimento não entra apenas o objecto conhecido¸ mas também, o sujeito que conhece. Portanto, para a consciência crítica, o acto de conhecimento envolve dois elementos fundamentos: o Sujeito que conhece e o Objecto que é conhecido. O Sujeito ou ser que conhece, por oposição e em relação com o objecto ou coisa conhecida; o Objecto é tudo o que de algum modo e sob qualquer aspecto pode ser representado ou pensado.
Faculdades de Conhecimento: Sensação e Percepção
Ao entender de Marinela Chauí (2000: 151) o conhecimento sensível também é chamado de conhecimento empírico ou experiência sensível e suas formas principais são a Sensação e a Percepção.
A Sensação é o que nos dá as qualidades exteriores e interiores, isto é, as qualidades dos objectos e os efeitos internos dessas qualidades sobre nós. Na sensação vemos, tocamos, sentimos, ouvimos qualidades puras e directas: cores, odores, sabores, texturas. Sentimos o quente e o frio, o doce e o amargo, o liso e o rugoso, o vermelho e o verde, etc. Assim, Japiassú & Marcondes (2001: 173) define a “Sensação como uma impressão subjectiva e interior advinda dos sentidos e causada por algum objecto que os excita ou estimula”.
Percepção designa o ato ou a função cognoscitiva à qual se apresenta um objecto real. Segundo Abbagnano (2007: 149) Percepção é o acto de perceber, acção de formar mentalmente representações sobre objectos externos a partir dos dados sensoriais. A sensação seria assim a matéria da percepção. Todas as percepções da mente humana se incluem em dois tipos distintos que são: Impressões e Ideias. A diferença entre uma e outra consiste nos graus de força e vivacidade segundo os quais atingem a mente chegando até o pensamento e a consciência. Aquelas percepções que penetram com mais força podem chamar-se de impressões compreendendo todas as nossas sensações, paixões e emoções. Por Ideias considero as imagens pálidas dessas no pensamento e no raciocínio.
Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio, e intuição intelectual. Os dois primeiros formam o que ele chama de Conhecimento sensível; os dois últimos formam o Conhecimento inteligível. Segundo Platão apud Chauí (2012:141) a Crença é nossa confiança no conhecimento sensorial, pois cremos que as coisas são tal como as percebemos em nossas sensações. A Opinião é a nossa aceitação do que nos ensinaram sobre as coisas ou o que delas pensamos conforme nossas sensações e lembranças.
As grandes linhas do pensamento de Platão afirmam que existe um mundo terreno (sensível) e um mundo das Ideias (inteligível). O conhecimento sensível (proveniente do mundo terreno, mutável) é a fonte de opinião (conhecimento vulgar, senso comum); o conhecimento intelectivo, com origem no mundo das Ideias, imutável é a fonte de verdade, porque as ideias são a realidade verdadeira e conhece-las é ter o conhecimento verdadeiro, uma vez que, as ideias estão em nós como “reminiscência[1]”.
Segundo Platão a distinção radical existente no mundo da realidade entre as coisas e as ideias corresponde, distinção igualmente radical entre sensação e intelecto. Isto porque, em primeiro lugar, os sentidos e o intelecto têm objecto próprio: objecto dos sentidos é o mundo sensível; do intelecto é o mundo das Ideias. Em segundo lugar, porque os sentidos podem chegar a formar opinião sobre seu objecto; ao passo que o intelecto produz verdadeiro conhecimento (MONDIN, 2008: 67).
Para ilustrar a passagem dos graus inferires de conhecimento aos superiores, Platão recorre o seu célebre “mito da caverna”. O mito mostra que a passagem de um grau para o outro se dá lentamente e com grande esforço e que exige conversão, total mudança de mentalidade. Portanto, a filosofia procura conduzir os homens à conversão, de um grau ao outro, até ao grau supremo, único no qual é possível o verdadeiro conhecimento da realidade (Idem: 68).
Aristóteles distingue sete formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memoria, raciocínio, e intuição. Enquanto Platão concebia o conhecimento como abandono de um grau inferior para o superior, para Aristóteles o nosso conhecimento vai sendo formado e enriquecido por “acumulação das informações trazidas por todos os graus”, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e o intelectual haja uma continuidade entre eles. Assim, as informações trazidas pelas sensações se organizam e permitem a percepção. As percepções por sua vez se organizam e permitem a imaginação. Portanto, da percepção e da imaginação conduzem à memória, à linguagem e ao raciocínio (CHAUÍ, 2012: 141).              

Bibliografia
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Martins Fontes. 2007. 
CHAUÍ, Marinela. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000.
_______________. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2012.    
JAPIASSÚ, Hilton. & MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª Edição. R. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 
MENDES, Ademir Aparecido Pinhelli; BORGES, Anderson de Paula. KESTRING, Bernardo. Et all. Filosofia: Ensino Médio. 2ª Edição. Brasil: Curitiba, 2006.     
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: Os Filósofos do Ocidente. 15ª Edição. S. Paulo: PAULUS, 1980.  
 SARAIVA, Augusto. Filosofia: segundo os programas do ensino Liceal. Lisboa, 1972.



     
            


[1] Uma das coisas mais extraordinárias da filosofia platónica é a doutrina da reminiscência. Segundo ela o nosso “conhecer é recordar”.

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